Roland Barthes é considerado o pai da nova crítica literária. Seus postulados visam a pluralidade de interpretações do texto literário, bem como o papel ativo do leitor. Além disso, o autor trata do texto de prazer e fruição, sendo este o texto que desestabiliza o leitor e aquele texto que causa prazer. Nesse sentido, o presente artigo busca realizar uma leitura guiada pelos preceitos do pósestruturalismo, especialmente os postulados de Barthes e de Belsey, com a questão do texto interrogativo. Para tanto, escolhemos o conto "O Espelho", de Guimarães Rosa, visto que acreditamos ser possível ler esse texto através da ótica das teorias mencionadas.
Embora a crítica machadiana e a rosiana já tenha se debruçado sobre essas narrativas, isoladamente, ou por meio de comparação, acreditamos haver alguns aspectos desses contos que merecem ser ainda explorados. Assim, o artigo propõe-se a comparar os dois contos homônimos de Machado de Assis e de Guimarães Rosa, procurando observar os pontos de convergência e os de divergência no que diz respeito à importância das narrativas na produção de cada um dos escritores, na concepção sobre o tema, na construção da história, na escolha dos narradores.
Neste trabalho é propostauma leitura dos contos Nenhum, nenhuma e O espelho, presentes no livro Primeiras Estórias,de Guimarães Rosa. As duas estóriassão analisadasinserindo-as no contexto da modernidade, tendo como tema principal a crise do sujeito. É abordada como se dá,nas duas narrativas,a noção de que o sujeito é, na verdade, fragmentado,e também a busca e a impossibilidade de atribuir sentido ao eu. No conto Nenhum, nenhuma, considerandoa importância do passado para a constituição do sujeito, a impossibilidade de reconstituí-lo por meio da memória acaba resultando em uma crise de identidade, marcada no conto pela oscilação constante do foco narrativo e pela interrogação acerca do eu que se apresenta na narrativa. Já no conto O espelho, a crise de identidade se inicia quando o narrador-personagem, diante de um espelho, vê, no lugar de seu reflexo, a imagem de uma espécie de monstro, que ele percebe se tratar dele mesmo. Reconhecendo, então, a existência de um eu que se esconde por detrás das aparências, o narrador se propõe a realizar um experimento, buscando, assim, alcançar essa parte oculta de si.