Embora a crítica machadiana e a rosiana já tenha se debruçado sobre essas narrativas, isoladamente, ou por meio de comparação, acreditamos haver alguns aspectos desses contos que merecem ser ainda explorados. Assim, o artigo propõe-se a comparar os dois contos homônimos de Machado de Assis e de Guimarães Rosa, procurando observar os pontos de convergência e os de divergência no que diz respeito à importância das narrativas na produção de cada um dos escritores, na concepção sobre o tema, na construção da história, na escolha dos narradores.
Em Tutaméia, Guimarães Rosa propõe e experimenta um recorte muito peculiar do cômico, cuja função não seria a de causar o riso, mas a de dar acesso a "novos sistemas de pensamento". O cômico, infiltrado em vários planos da obra, cumpre inúmeras funções. Uma delas seria a de revelar o engano de raciocínios e valores viciados, já que alarga as possibilidades de representação ao incorporar "outras lógicas", normalmente banidas do pensamento sério, como no caso do louco, da criança, do criminoso etc. A questão da comi- cidade ganha extraordinária complexidade na obra, confundindo-se muitas vezes com outros procedimentos (o estranhamento, a ironia, o grotesco, por exemplo).
A hipótese que procuraremos explicitar, justificar e funda- mentar neste artigo é a de que os escritos de João Guimarães Rosa são tramados por fios filosóficos a tal ponto que, neles, não raramente, os limites entre filosofia e literatura esvaem-se. Seus contos são filosóficos na medida em que sempre dão o que pensar, lançam perguntas e escavam as potencialidades e as profundezas da alma humana, o que o conto "O espelho" reflete paradigmaticamente.
O trabalho realiza um percurso comparativo por três contos que têm figuras de loucos em seu centro – “Darandina” e “Sorôco, sua mãe, sua filha”, de Guimarães Rosa, e “O alienista”, de Machado de Assis –, discutindo as formas que a loucura assume neles e suas relações com a idéia e as demandas de uma certa coletividade, sobretudo a dupla e instável necessidade de romper e manter os limites identitários da dita “normalidade”.
Este ensaio busca situar, minimamente, os alcances e os
limites de conceitos como mímesis, estrutura e desconstrução, bem
como outros processos de representação que mobilizam a palavra
literária no conto “Meu tio o Iauaretê”, de João Guimarães Rosa.
Utilizou-se como referencial teórico-metodológico as formula-
ções de Luiz Costa Lima, sobretudo o seu conceito de mímesis da
produção, e as reflexões de Julia Kristeva e de Jacques Derrida, especialmente
as formulações que deslocam a fixidez da concepção
de estrutura e de sua servilidade à metafísica do sentido
Em Dão-lalalão, Soropita apresenta-se mergulhado em
devaneios. As vozes deste e as do narrador alternam-se, assim como
o espaço ficcional e o espaço psicológico, fruto da imaginação do
protagonista. Desenrolam-se, pois, duas ações: no plano ficcional e
no plano psicológico, isto é, nos devaneios e lembranças de Soropita.
O devaneio é um estado psíquico entre o sono e a vigília que apresenta
as mesmas características do sonho. O exame desses elementos
psicanalíticos – os devaneios e as lembranças –, segundo os estudos
de Freud e Lacan, conduzirá o leitor a camadas mais profundas da
compreensão do texto roseano.
Aliando instrumentos de análise dos campos da Lingü-
ística e da Literatura, procuramos identificar e compreender as leis
que regem a construção do conto “Famigerado”, de João Guimarães
Rosa. Tentamos compreender como o leitor reconstitui essa “estória”,
dado que, a despeito das dificuldades que o texto roseano lhe impõe,
ele a apreende de maneira coerente, apoiando-se no que parece simples
e familiar para ultrapassar o que é complexo e estranho. Para
tanto, focalizamos as dimensões temporais e demais elementos que
auxiliam a legibilidade do texto.
Machado de Assis e Guimarães Rosa são duas personalidades literárias, dois estilos bastante distintos, seja na concepção de linguagem, seja na visão de mundo. Aproxima-os, contudo, o engenho e
arte na ativação das forças expressivas do texto, revelando domínio pleno da língua portuguesa e das modalizações da linguagem literária. No desdobramento de tais questões, farei uma apreciação crítica dos contos homônimos “O espelho”, de Machado e Rosa, atualizando, com isso, traços recorrentes dos referidos contos no contexto de suas obras.