Poderá ser surpreendente fazer pendant de escritores, com Guimarães Rosa e Monteiro Lobato. Mas haverá, no mínimo, a procedência de ser ilustrativo do trabalho que aqui se apresenta. Ficou, em nossa memória mais remota de leituras, que as figuras encantadoras do imaginário infanto-juvenil europeu, em sua coorte de significados, desembarcaram, com Lobato, para nacionalizarem-se em terreiro do Brasil. Mas ficou, também, em nossa memória mais recente de leituras, que o pensamento dos antigos ou “clássicos” da Grécia, em seus sedutores achados, pousou no sertão grande de Guimarães Rosa, transfundindo-se à passagem pelas veredas da metabolização cultural brasileira. Este trabalho tem, então, o objetivo de refletir sobre tal operação, realizada no processo da alquimia literária rosiana, através de recorte estabelecido à volta do conto “A hora e a vez de Augusto Matraga”, de Primeiras estórias.
Nesse artigo iremos analisar o conto “Fatalidade” do livro, “Primeiras Estórias”, publicado pela editora José Olympio no ano de 1962 de João Guimarães Rosa (1908-1967), cujo enredo se passa na vida caipira, e a temática é a tragédia como o título do conto já nos diz. Essa análise baseia-se nos autores Regina Zilberman (1989) e Hans Robert Jauss (1994) e suas respectivas teorias sobre a história da literatura e a recepção crítica literária. Com o objetivo de realizar uma leitura mais aprofundada das características abordadas na vida no sertão, como sabemos a valorização do mundo sertanejo é ponto forte nas obras roseanas, mais especificamente a violência no sertão. A justiça é realizada sem nenhum pudor pelos personagens, e até que ponto pode-se considerar justo o ápice ou a fatalidade em questão no conto. Visando a inserção do leitor não apenas como passivo, mas como ativo na leitura, na compreensão e na recepção do conto com base nos autores já citados, assim tornando o leitor o principal elo do processo literário.