O objetivo deste estudo é analisar o romance Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, a partir de conceitos elaborados por Mikhail Bakhtin. Este desenvolveu a concepção de romance polifônico em sua interpretação da obra de Fiódor Dostoiévski, desvendando o procedimento do escritor de incluir em sua prosa ficcional a multiplicidade de vozes presentes na sociedade. Trata-se do fenômeno do dialogismo, em que diferentes discursos entram em interação, se manifestam em réplicas diretas ou veladas, reagem entre si, estabelecem consonâncias ou dissonâncias, transformando-se continuamente, sendo que o autor aparece como uma entre as muitas vozes da narrativa. Nesse sentido, apesar de haver apenas uma voz em enunciação, consideramos Grande sertão: veredas um romance polifônico e interpretamos trechos em que o dialogismo é patente. Em seu estudo sobre François Rabelais, Bakhtin introduziu o conceito de carnavalização da literatura, processo por meio do qual foram incorporadas manifestações da cultura popular na linguagem literária. Bakhtin vale-se ainda da noção de grotesco, estilo antigo caracterizado pela mistura de formas. Tanto em Rabelais como em Guimarães Rosa, a linguagem está radicada na oralidade e em expressões populares, ainda que amalgamada a um vasto conhecimento erudito. Desse prisma, analisamos duas novelas (O recado do morro e Meu tio o Iauaretê) e um conto (Darandina) de Guimarães Rosa, além do romance Grande sertão: veredas. Seguindo uma linha de pensamento alinhada às ideias de Bakhtin que encontram ressonância em Guimarães Rosa, nas quais as fronteiras são indistintas e a transformação é inerente ao movimento da vida, procuramos centrar a análise na superação da lógica binária moderna, dando um salto para o polissêmico. É dessa maneira que propomos uma atualização da visão sobre a relação amorosa em Grande sertão: veredas, com o apoio teórico de Michel Foucault.
No âmbito do universo fáustico que transita do Fausto, de Goethe, a Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, o propósito desta comunicação é abordar uma relação historicamente estabelecida entre demonismo e homossexualidade. Destaco algumas obras do cânone mundial em que o tema aparece, desde a Divina Comédia, de Dante, a Orlando, de Virgínia Woolf, para então adentrar na complexidade da relação de afeto entre Riobaldo e Diadorim, abordando alguns episódios do romance de Rosa. Para tanto, conto com o suporte teórico de Mikhail Bakhtin e de Michel Foucault, entre outros. Como ponto de partida, utilizo um aspecto da cena “Inumação”, que antecede e prepara o desfecho da tragédia de Goethe, em que o diabo enamora-se dos mancebos que conduzem a alma de Fausto à salvação. Tal deslize provocado pelo desejo homoerótico contribui para que Mefisto perca definitivamente a aposta com o Altíssimo. Conforme Haroldo de Campos, esse demônio vencido pela luxúria alinha-se à proposição desenvolvida po