Este artigo busca situar o jornalismo literário enquanto disciplina de saberes complexos e transdisciplinares, necessária à formação de todo jornalista. Busca entender e integrar a prática da narração aos problemas dos níveis de realidade. Os conceitos de literatura de complexidade e de transdisciplinaridade servem de base à nossa reflexão. Com o conto “Com o vaqueiro Mariano”, trazemos a literatura de João Guimarães Rosa e suas relações com os saberes jornalísticos, desde a noção de entrevista, passando pelo sistema de produção e circulação da informação até as técnicas de apuração que o autor empregava. Por fim, concluímos que o jornalismo literário permite não só situar o jornalismo no circuito da comunicação, mas também, e de forma ampliada, estender o circuito da comunicação à sua dimensão cultural, em seu papel pedagógico relevante para qualquer área do conhecimento.
Instituto de Letras, Departamento de Teoria Literária e Literatura, Programa de Pós-Graduação em Literatura
A atividade de ler o mundo é imprescindível para a atuação do ser humano em sociedade. Aplicada a contextos sociais específicos, a leitura da palavra escrita é necessária à ampliação das leituras de mundo. Ler literatura é recurso que contribui para a transformação do sujeito-leitor e de seu mundo. A partir do confronto entre essas premissas e a constatação de que não há recepção da obra de João Guimarães Rosa no Vale do Urucuia, originou-se o problema desta pesquisa: não se lê a obra do Autor, apesar de ele ser vulto importante na região, por ter explorado em sua obra a paisagem e os valores urucuianos e por se constituir um importante ator nas relações sociais do Vale. A partir disso, buscamos demonstrar que ler João Guimarães Rosa, na educação básica, é possível. Embasados na dialogia bakhtiniana, na teoria do efeito estético iseriana e no letramento literário, propusemos um projeto de intervenção, cuja metodologia, centrada na pesquisa-ação, demonstra estratégias de leitura dos textos rosianos para as escolas de educação básica situadas na região. Dessa forma, objetivamos desmistificar a ideia de que os textos do Autor são difíceis e herméticos; evidenciar que os leitores no vale do Urucuia se reconhecem nos textos, identificam a paisagem local explorada nas obras. Visamos também despertar nos leitores o sentimento de pertencimento e a necessidade de assunção cultural por meio da valorização da identidade urucuiana a partir da leitura da obra de JGR. Nesse processo, destacamos o papel fundamental do professor, na posição de mediador de estratégias de leitura, sobretudo quando elas constituem eventos dialógicos que devem ser planejados e flexibilizados considerando o público que lê e o texto a ser lido. A proposta aponta para uma concepção de leitura necessária e uma práxis decisiva para formação de leitores autônomos, que contribuem para o alargamento da visão do urucuiano acerca de si mesmo e acerca da obra de João Guimarães Rosa.