Este artigo apresenta uma reflexão acerca dos três amores do personagem Riobaldo na construção do romance Grande sertão: veredas, baseada na mitologia grega e no texto “O banquete” de Platão. Faz-se referência também à obra A divina comédia. Busca-se reconhecer a importância da figura feminina para o desenrolar da narrativa, como se realizam a representação e a composição do feminino no universo do romance a partir de obras clássicas e como se realiza a ascese humana por meio do amor.
Discorre-se, neste relato acerca de uma pesquisa relacionada à recepção da obra de João Guimarães Rosa no Vale do Urucuia, cenário de parte do romance Grande Sertão: Veredas. O objetivo principal da pesquisa foi levar a leitura dos textos rosianos às comunidades que se situam no território que inspirou o autor. Além disso, objetivou-se também desenvolver o letramento literário na mesma região. Destacam-se as “cirandas dialógicas” como procedimento metodológico eficaz, uma vez que os participantes do projeto se envolveram com os textos, mesmo com a ideia pré-formada de que a leitura do autor é difícil e para um grupo seleto. A proposta percorreu 5 comunidades da região e, a partir do relato, observam-se resultados positivos em relação à leitura de João Guimarães Rosa pelo interior do país: primeiro, as pessoas mais humildes e com pouca educação formal têm plenas condições de ler a obra do autor; segundo, o letramento literário, assim como outros letramentos, pode ser desenvolvido se houver um cuidado com as estratégias aplicadas para este fim.
Instituto de Letras, Departamento de Teoria Literária e Literatura, Programa de Pós-Graduação em Literatura
A atividade de ler o mundo é imprescindível para a atuação do ser humano em sociedade. Aplicada a contextos sociais específicos, a leitura da palavra escrita é necessária à ampliação das leituras de mundo. Ler literatura é recurso que contribui para a transformação do sujeito-leitor e de seu mundo. A partir do confronto entre essas premissas e a constatação de que não há recepção da obra de João Guimarães Rosa no Vale do Urucuia, originou-se o problema desta pesquisa: não se lê a obra do Autor, apesar de ele ser vulto importante na região, por ter explorado em sua obra a paisagem e os valores urucuianos e por se constituir um importante ator nas relações sociais do Vale. A partir disso, buscamos demonstrar que ler João Guimarães Rosa, na educação básica, é possível. Embasados na dialogia bakhtiniana, na teoria do efeito estético iseriana e no letramento literário, propusemos um projeto de intervenção, cuja metodologia, centrada na pesquisa-ação, demonstra estratégias de leitura dos textos rosianos para as escolas de educação básica situadas na região. Dessa forma, objetivamos desmistificar a ideia de que os textos do Autor são difíceis e herméticos; evidenciar que os leitores no vale do Urucuia se reconhecem nos textos, identificam a paisagem local explorada nas obras. Visamos também despertar nos leitores o sentimento de pertencimento e a necessidade de assunção cultural por meio da valorização da identidade urucuiana a partir da leitura da obra de JGR. Nesse processo, destacamos o papel fundamental do professor, na posição de mediador de estratégias de leitura, sobretudo quando elas constituem eventos dialógicos que devem ser planejados e flexibilizados considerando o público que lê e o texto a ser lido. A proposta aponta para uma concepção de leitura necessária e uma práxis decisiva para formação de leitores autônomos, que contribuem para o alargamento da visão do urucuiano acerca de si mesmo e acerca da obra de João Guimarães Rosa.