São Paulo (AUN - USP) - O Brasil incorporou muito da França nestes cinco séculos de presença e convivência entre esses dois paÃses. Provas irrefutáveis disso podem ser encontradas através de profundas semelhanças tanto na literatura quanto no teatro destas duas nações, como ilustrado na debate âO século XIX: um imenso galicismoâ, que ocorreu no Centro Universitário Maria Antonia, da USP.
O evento consistiu de duas palestras, uma proferida pelo professor Gilberto Pinheiro Passos e outra pelo professor João Roberto Faria. Ambos pertencem ao Núcleo de Pesquisa Brasil-França (Nubrefat), responsável pela organização desta série de eventos, que foi denominada âCinco Séculos de Presença Francesa no Brasilâ. A moderação do debate foi realizada por Maria CecÃlia Queiroz de Moraes Pinto, também do Nubrefat.
O Tema geral do evento foi âO Século XIX: um imenso galicismoâ, perÃodo em que a França era referência mundial e modelo absoluto a ser seguido no Brasil. A relação entre os dois paÃses extrapola o fato de a lÃngua francesa ser lecionada nas escolas durante esse perÃodo e o vestuário, por exemplo, ser inteiramente baseado nas tendências e condições climáticas da França. à preciso lembrar, por exemplo, que as resoluções arquitetônicas adotadas na reforma higienista do Rio de Janeiro, realizada no inÃcio do século XX, foram todas baseadas em Paris, consagrada e reverenciada mundialmente como Cidade Luz. Vale recordar também que, justamente por isso, no século XIX, o Rio de Janeiro e Buenos Aires disputavam o tÃtulo de Paris das Américas.
Nesse contexto, o professor Passos retomou relevantes aspectos da intersecção entre a literatura francesa e a brasileira, através de sua palestra: âA França em Machado de Assisâ. Comparando a obra de um dos mais importantes escritores da literatura de nosso paÃs aos mais consagrados autores franceses, como Balzac e Victor Hugo, o professor mostra o quão profundas foram as influências dos gauleses em nossa cultura. Ele apresenta a construção de Capitu, uma das personagens mais célebres da obra de Machado, como baseada em inúmeros aspectos intrÃnsecos à literatura francesa, encarnando a figura da mulher fatal. Segundo o professor, é como se Brasil e Europa tivessem se unido para construir a visão de Capitu, âdiferente do patriarquismo do século XIXâ.
Já o professor João Roberto Faria ocupou-se em sua palestra de reconstruir o panorama da dramaturgia franco-brasileira do século em questão. Ele recordou que peças de autores franceses eram encenadas no Brasil â na lÃngua francesa â inclusive por companhias brasileiras. Além disso, as principais companhias de teatro gaulesas tinham passagem obrigatória pelo território tupiniquim.
Esses colóquios sobre a relação cultural entre o Brasil e a França acontecem uma vez por mês no Centro Universitário Maria Antonia. Para mais informações: www.usp.br/mariantonia. Além disso, há diversos outros eventos em todas as partes do paÃs para celebrar âAno da França no Brasil. Para saber mais: anodafrancanobrasil.cultura.gov.br.