ISSN 2359-5191

11/11/2009 - Ano: 42 - Edição Nº: 81 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
Estudo revela histórico do “continente Amazônia”

São Paulo (AUN - USP) - O que equivale hoje a um trecho da região amazônica já foi um cráton, termo que designa grandes porções de terras antigas sem tectonismo extremo. Antes de se juntar às outras partes que constituem a atual América do Sul, a região teve um histórico geológico de movimentações. Esse foi o objeto de estudo de grupo de professores da Universidade de São Paulo.

Professores do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG/USP) e do Instituto de Geociências (IGC/USP) analisaram a deriva desse ‘continente’ entre 2,5 bilhões e 600 milhões de anos atrás. “No inicio de nosso trabalho, a história de deriva do ' continente Amazônia' era desconhecida: por onde andou essa placa amazônica, tão antiga, que tem mais de 2,5 bilhões de anos?” relata o professor Ricardo Trindade, do IAG, um dos pesquisadores envolvidos no estudo.

O período analisado é anterior a Pangéia, supercontinente que existiu há 250 milhões de anos, antes dos componentes dos atuais continentes se separarem na configuração que se conhece hoje. Estudos geológicos mais recentes apontam que houve supercontinentes mais antigos. O professor Manoel D’Agrella, do IAG, explica que hoje os cientistas acreditam que o supercontinente mais antigo é o Rodínia, que deu origem a Pangéia.

Apesar do conhecimento do cráton amazônico, a comunidade científica pouco sabia da deriva que ele sofreu antes de se juntar para formar a Pangéia. A pesquisa dos professores da USP trouxe diversos dados que ajudaram a entender melhor o histórico do cratón. Este já esteve junto com o noroeste da África, com a chamada Laurentia (atualmente Estados Unidos e Canadá), com a Escandinávia e com o norte da China.

Sobre o período em que o cráton esteve com o noroeste da África, Ricardo Trindade comenta: “Eles estavam unidos 2,2 bilhões de anos atrás e viriam a se separar somente há 130 milhões de anos. Mais de dois bilhões de anos de união!”. Nesse meio tempo, mais precisamente há 1,8 bilhões de anos, a Amazônia ajudou a formar um megacontinente, chamado de Columbia, junto com a Laurentia, Escandinávia e norte da China. Sabia-se que a Amazônia e a Laurentia estiveram juntas por um longo tempo, mas não se sabia quando elas haviam se separado. O estudo aponta que a cisão ocorreu somente há 550 milhões de anos.

Outro dado curioso é o período em que o cráton foi anexado ao restante do Brasil. Há uma divergência entre os responsáveis pela pesquisa se o fato se consumou há 530 milhões de anos ou há 600 milhões de anos. Porém, foi confirmada a sua união com a costa oeste do cráton do São Francisco (trechos do nordeste brasileiro e de Minas Gerias) e com o cráton do Rio de La Plata (quase toda a parte baixa da América do Sul: Paraguai, Argentina e Uruguai).

O encontro do cráton amazônico com o restante do Brasil formou uma cadeia de montanhas e rochas mais novas do que as do cráton de São Fancisco. A atual bacia sedimentar que há hoje na Amazônia é fruto das antigas cadeias de montanha daquela época, as quais, com o tempo, foram sendo desgastadas por processos físicos e químicos. Além disso, em certo grau, há relação entre os terremotos na região amazônica com o encontro no passado. Quando perguntado sobre essa possibilidade, o professor Manoel D’Agrella confirmou que a anexação propiciou um estruturamento mais frágil do que o restante do território brasileiro, repercutindo na atividade sísmica mais intensa na região em relação ao resto do país.

Equipe e técnicas utilizadas
A pesquisa foi realizada por grupo de pesquisa formado somente por professores. Além de Ricardo Trindade e Manoel D’Agrella, William Teixeira, professor do IAG, colaborou com os estudos. Toda a pesquisa foi coordenada pelo professor do IGC Umberto Cordani. Os professores começaram suas observações em 2000 e foram divulgadas este ano em revista da editora Elsevier B.V.

Para obter os dados necessários, os pesquisadores realizaram seus estudos a oeste de Cuiabá, no estado de Mato Grosso, próximo a Bolívia. Nas cidades de Rio Branco e Vila Bela, foram coletados dados de rochas antigas a partir de técnicas paleomagnéticas e geocronológicas. O primeiro método consiste em determinar onde estava a placa milhões e bilhões de anos atrás por meio da inclinação do vetor do campo magnético na rocha. O segundo método data as rochas para obter a idade geológica delas. Enquanto a análise paelomagnética ficou por conta dos professores do IAG, as observações geocronológicas ficaram a cargo do professor Umberto Cordani.

Segundo Ricardo Trindade, simultaneamente aos seus estudos , pesquisadores da Guiana Francesa colaboraram com a comunidade científica trabalhando também na compreensão da trajetória do cráton amazônico entre 2,2 e 1,8 bilhões de anos trás. Falando sobre o impacto das descobertas feitas pelas duas pesquisas, o professor do IAG comenta: “Agora nós podemos especular sobre como o 'continente Amazônico' se movimentou ao longo do tempo, se estava no equador, no pólo ou em latitudes intermediarias, se girou etc... e também qual sua relação com outros continentes antigos”.

O próximo projeto é entrar na Bolívia para continuar os estudos, relata Manoel D’Agrella. Segundo o professor, o objetivo agora é produzir dados para a definição do Rodínia e a posição do cráton amazônico em relação ao supercontinente. Com contatos da Universidade Federal do Mato Grosso e de geólogos da Bolívia, o projeto propiciará dados ainda mais precisos da pesquisa sobre o cráton e sua deriva.

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