São Paulo (AUN - USP) - Diferentes interpretações do espaço urbano estão expostas no pavilhão Ciccillo Matarazzo, do Museu de Arte Contemporânea (MAC-USP), no parque Ibirapuera. Ocorrem simultaneamente a exibição de um documentário e duas exposições, que têm em comum o tema “Cidades”.

A mostra “Cidades Imaginadas” é formada por obras de três artistas: Hélcio Magalhães, Jonathas de Andrade e Waldo Bravo. Para tratar de algo tão dinâmico como a urbe, os artistas recorrem à fotografia, que permite recortes e adaptações, presentes em todas as obras. Hélcio Magalhães transmite na montagem “São Paulo Imaginada” a diversidade cultural e arquitetônica em tiras de fotografias de seu acervo pessoal, que se sobrepõem formando um painel horizontal de oito metros de largura por um de altura, preenchendo uma das paredes do espaço. Alternam-se fotos da cidade com retratos de personagens urbanos, um dos temas de sua pesquisa. Também nesse formato, a montagem “São Paulo em Grafit” une imagens desse tipo de manifestação artística, fotografada pelo próprio autor com a contribuição dos artistas Newton Silva e Isabel D’élia.

Uma abordagem mais documental é a de Jonathas de Andrade, que agregou a representação geográfica de Recife a fotografias e dados colhidos em diversos pontos da cidade. “Recenseamento Moral da Cidade do Recife”, de 2008, disponibiliza para consulta cópias do material de pesquisa – um questionário sobre tradição, ética e costumes, abordando questões como “Em que casos pode o cavalheiro passar na frente da senhora?” ou “Como se deve proceder frente a enterros, procissões ou ao Pavilhão Nacional?”. As respostas configuram a diversidade e o imaginário popular acerca de situações cotidianas, uma espécie de mapeamento físico, estético e cultural do Recife.

Esse retrato do imaginário popular é justamente o ponto de contato entre esta exposição e a “Cidades Imaginadas Iberoamericanas”, uma exibição de fotografias que investigam o imaginário urbano de 13 cidades diferentes. Segundo Lisbeth Rebollo Gonçalvez, que participa da curadoria de ambas as exposições, essa é uma mostra que dialoga com outras de diferentes países, que também buscam um retrato da vida urbana e seus imaginários. As fotografias, portanto, transcendem a representação figurativa, focando nas intervenções de seus habitantes no espaço público. Por isso, grande parte do que é exposto são imagens de grafite, pinturas de fachadas e mesmo pichações - manifestações urbanas características por revelarem de maneira criativa anseios, críticas e desabafos da sociedade. Exemplo disso é a foto de Maria Adelaida López Restrepo, “El presidente me da miedo”, de 2007, que reuni em dois planos estudantes caminhando enfileirados e um muro pichado com as inscrições do titulo; uma interpretação crítica da fotógrafa sobre a arte e a realidade de Bogotá.

Todas as fotos de ambas as exposições têm seu papel invertido no documentário de Fabiana de Barros e Michel Favre “Ouvindo Imagens”, também exibido no Festival é Tudo Verdade – SESCSP. Toda experiência visual das fotos é transformada em discurso através da fala de personagens urbanos, que viajam no banco traseiro de um taxi contando histórias a partir de imagens que não são reveladas ao público. O espectador passa a ouvi-las, complementando a visita ao museu, na qual somente as viu.

“Cidades Imaginadas” ocorre até dia 5 de maio, e “Cidades Imaginadas Iberoamericanas” até dia 23, de terça a domingo, das 10 às 18 horas.