ISSN 2359-5191

24/06/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 38 - Saúde - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP
Santo André encara jovem como problema

São Paulo (AUN - USP) - Entre onze instituições, dez visam ocupar o tempo ocioso do jovem. O dado corresponde às políticas públicas de Santo André voltadas para a população de 15 a 24 anos – a chamada juventude pela ONU. De caráter privado ou privatizado, todos esses projetos são voltados para as classes mais pobres e encaram os jovens como um conjunto homogêneo e problemático. Há alguns anos, existiam políticas que davam mais voz a essa população, mas nenhuma foi continuada após mudanças de governo.

O estudo faz parte de uma pesquisa maior, em fase de finalização, sobre jovens, valores e consumo de drogas realizada pelo grupo “Fortalecimento e desgaste no trabalho e na vida” da Escola de Enfermagem da USP. Santo André foi escolhida por apresentar uma grande quantidade de políticas públicas para essa faixa etária – ao menos em teoria. Quando as pesquisas do grupo começaram, logo se viu que, na verdade, somente 11 instituições ainda funcionavam. Políticas de gestões passadas – de sete, oito anos atrás, em que o jovem era visto como detentor de direito e consultado - não haviam sido continuadas, restando apenas ONGs e instituições filantrópicas.

A socióloga Helena Abramo explicita quatro formas de se abordar o jovem: como em um período preparatório, onde devem ocorrer ações educativas; como inerentemente problemático, e que deve ser controlado e tutelado; como ator estratégico do desenvolvimento local; e como sujeito de políticas, capaz de assumir papéis sociais e construir a sociedade.

Segundo a professora Cássia Soares, coordenadora do grupo, a pesquisa revelou que apenas uma das instituições de Santo André não tem essa segunda percepção do jovem como problema, vendo-o ao invés disso como ator estratégico. Ou seja, alguém que vai aprender novos valores e levá-los para o local onde mora – concepção comum a programas ligados com meio ambiente, educação sexual, entre outros. Maria Carla Corrochano, da ONG Ação Educativa, aponta que políticas desse tipo podem acabar sendo cruéis com o jovem. “Às vezes ele não consegue melhorar sua realidade e sente que falhou.”

Os projetos que visavam ocupar o tempo ocioso dos jovens tinham o intuito de resgatar a autoestima desse público. Apostar no ensino de boas maneiras era uma maneira de fazer isso, na tentativa de qualificação para o mercado de trabalho. Muitos eram cadastrados no programa Primeiro Emprego e eram cursos para conseguir estágio. Entretanto, em contraponto a essa proposta de valorizar o jovem, nenhum dos onze trabalhos dava voz aos participantes. “Os jovens não constroem os projetos de que participam, não têm poder de decisão”, diz o pesquisador Heitor Martins Pasquim, realizador do estudo.

Ele aponta a necessidade de se produzir avaliações para conhecer os jovens, a fim de construir projetos com resultados mais satisfatórios, e diz que é importante que os projetos se articulem e sejam monitorados pelo poder local, coisa que não acontece atualmente. Heitor acrescentou também que a Secretaria Municipal de Saúde de Santo André se comprometeu a incorporar os resultados da pesquisa em suas políticas.

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