São Paulo (AUN - USP) - Em meio as comemorações do Ano Nacional Joaquim Nabuco, a professora Lilia Moritz Schwarcz da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP apresentou uma palestra no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) sobre as questões raciais presentes nos textos de Nabuco. Para a professora de Antropologia, o diplomata “não fala sobre raça em nenhum de seus textos”.
Segundo Lilia Schwarcz, Nabuco resistiu ao modo determinista de pensar o mundo, muito em voga na época. “Apesar de uma educação favorável, Joaquim Nabuco não usou as teorias do Determinismo Racial”, disse. Tal pensamento acreditava, por exemplo, que podia-se prender um criminoso antes mesmo desse cometer um crime, apenas por suas características externas. No Brasil o pensamento esteve na voz do médico Raimundo Nina Rodrigues, afirma Lilia.
Fazendo a leitura dos textos de Nabuco, Lilia Schawacz consegue fazer a leitura de duas posições distintas sobre a abolição da escravatura. A primeira leitura é a mais conhecida e difundida, apresentada pelo escritor em “O Abolicionismo”. O livro, anterior à abolição e à Proclamação da República, apresenta a escravidão como um grande mal que impede a modernização do Estado Brasileiro.
A segunda visão de Nabuco é apresentada em seus textos pós-abolição, posterior inclusive à Proclamação da República. “Um Nabuco melancólico nos apresenta a idéia de que a abolição não deu tão certo”, afirma a antropóloga. Ela explica que Nabuco começa a pensar em uma boa escravidão, concentrada no nordeste e sendo mais afetiva, em contraposição a uma má escravidão, presente no sudeste do país e sendo mais mercenária.
Lilia Schawacz, além de professora da FFLCH, é doutora em Antropologia Social pela USP e autora de importantes obras, como “Raça e diversidade” e “As barbas do imperador – Dom Pedro II, um monarca dos trópicos”. Também é fundadora da editora Cia. Das Letras.