ISSN 2359-5191

03/12/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 112 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Química
Mecanismo respiratório em peixes na Amazônia tem relação com a produção de proteínas, diz pesquisador
Em palestra realizada no Instituto de Química da USP, diretor do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) relacionou métodos diversos de transporte de oxigênio em tecidos de peixes com a diversidade biológica da Floresta Amazônica

São Paulo (AUN - USP) - Devido à dinâmica de cheias e secas e de variações na concentração de gás oxigênio em suas águas, à inversão de seu fluxo em direção ao Oceano Atlântico por causa do levantamento dos Andes e ao seu tamanho, a bacia Amazônica possui características peculiares que se refletem nos mecanismos de obtenção e de transporte de gás oxigênio por animais de sua fauna aquática. É o que destaca Adalberto Luís Val, diretor do INPA e coordenador do Laboratório de Ecofisiologia e Evolução Molecular (LEEM/INPA), em palestra intitulada “Peixes da Amazônia: diversidade e adaptação” a pós-graduandos e professores do IQ – USP.

O transporte de gás oxigênio ocorre através de suas hemácias, glóbulos presentes no sangue. Ocorre que em peixes, a afinidade entre o gás e o glóbulo é regulada por ATP e GTP, moléculas fosfatadas que atuam como moduladores negativos dessa afinidade. Ou seja, se pequena quantidade desse gás estiver dissolvida na água (situação a que se dá o nome de hipóxia), o metabolismo do peixe deverá fazer com que haja menos desses reguladores, para aumentar a afinidade do glóbulo e facilitar o transporte do gás.

Essa regulação se dá com os dois compostos fosfatados, mas é mais abrupto com as moléculas de GTP, já que essas são consumidas imediatamente na produção de proteínas. Em hipóxia, o peixe começa a produzir proteínas, consumindo GTP, sob orientação do fator eIF-α (sigla inglesa, cuja tradução para o português é fator de iniciação em eucariotos). Ou seja, o uso de eIF-α aparecia nas pesquisas “toda vez em que havia uma sinalização no sistema para alterar a maquinaria metabólica”, afirma Adalberto, de modo que os reguladores voltam à sua quantidade ideal quando as condições se normatizam (normóxia) ou em quantidade excedente quando do excesso de gás dissolvido (hiperóxia).

Apesar desses mecanismos de regulação, alguns peixes apresentam estratégias para obtenção de gás oxigênio. Muitos vivem nas regiões superficiais, já que essas apresentam saturação desse gás dissolvido. Já outros, como o peixe Cascudo, viram de ventre para cima e engolem água superficial com gás atmosférico, empurrando-os para dentro do organismo via trato digestório e realizando oxigenção de seu sangue na região vascularizada de seu estômago. Há ainda outros, como os Tambaquis, que projetam seu lábio inferior para coletar a camada superficial das águas.

As pesquisas realizadas pelo Instituto evidenciaram a migração da fauna dos rios principais em direção aos rios marginais durante o dia, já que nesse período, devido à fotossíntese das plantas há mais gás oxigênio disponível, e o seu retorno ao rio principal quando, durante a madrugada, a disponibilidade desse gás dissolvido chega próximo a zero.

Para Adalberto, a dinâmica dos rios da Bacia Amazônica é importante para entender a diversidade de suas espécies, podendo, ainda que de modo mínimo ser influenciada por atividades humanas. Principalmente por resíduos de cobre nas regiões de mineração e de descarga industrial, e de mercúrio, trazidos à região para uso em obtenção de ouro e através do vento.

O INPA contém 42 Comissões legais que regulam sua atividade, de modo que seus projetos devem ser submetidos a elas com antecedência para prévia autorização. Para Adalberto, que acompanha a atividade dos laboratórios e das comissões, esse é um dos pontos positivos do instituto, que também merece destaque já que tem criado normas e parâmetros para a realidade brasileira, sendo que até então usavam-se somente normas criadas nos Estados Unidos, país de clima temperado. “Mas o Brasil é um país tropical. A Amazônia é uma floresta tropical”, encerra o professor.

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