ISSN 2359-5191

21/06/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 48 - Arte e Cultura - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Olhar de Debret é tema de palestra no Departamento de Sociologia

São Paulo (AUN - USP) - O professor Jacques Leenhart, diretor de estudos da École des Hautes Études en Sciences Sociales em Paris, ministrou recentemente uma palestra sobre Jean-Baptiste Debret no Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH/USP). Leenhart, que é especialista em sociologia da literatura e das artes plásticas, focou a apresentação na importância do pintor francês para a construção de um olhar sobre o Brasil.

Desde o século 18, já eram comuns as expedições científicas nas Américas e na Oceania. Elas contavam com botânicos, geólogos, biólogos e, principalmente, desenhistas. “O desenho era essencial nessa base de conhecimento”, diz Leenhart. Graças ao desenho, era possível examinar e explicar com exatidão o que estava presente naquelas terras distantes aos europeus.

No entanto, o público europeu não tinha interesse somente em obras científicas. Havia uma demanda por histórias e imagens romantizadas, que mostrassem aquelas terras e seus nativos com todo o exotismo e peculiaridade que imaginavam os europeus.

No meio desse confronto entre documentação e romantização, Debret é convidado pela corte portuguesa para vir ao Brasil, onde chegou em 1816. Era um especialista na mais nobre arte plástica para a época, a pintura histórica, influenciada pelo estilo neoclássico. Entretanto, Debret também possuía grande conhecimento dos desenhos científicos produzidos pelas expedições coloniais.

De sua estadia no Brasil, que durou até 1831, surgiu o livro Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, publicado entre 1834 e 1839, após o artista voltar à França. Composto por dois volumes, o livro contém não só mais de 150 imagens, mas também 400 páginas de texto descrevendo com exatidão as figuras.

Segundo Leenhart, o trabalho do artista é duplo. O primeiro volume de seu livro mostra as obras realizadas a convite da coroa, com estética neoclássica e que utiliza o gênero de pintura histórica para retratar o Brasil, muitas vezes de forma romantizada, desde seus nativos à vida da coroa. O segundo volume é composto por aquarelas, trabalhos privados que documentavam o cotidiano.

É neste último volume em que fica escancarada a real visão de Debret sobre o Brasil. O pintor tinha convicção que a colônia estava se transformando em nação e que ela se formava por meio daqueles que realmente trabalhavam e produziam: os negros. Assim, esse volume documenta o cotidiano da cidade do Rio de Janeiro sem romantismos, focando no trabalho dos escravos e na vida quase ociosa levada pelas famílias brancas.

Não é à toa que, em 1834, o Instituto Histórico e Geográfico aceitou o primeiro volume ser depositado na Biblioteca Imperial. No entanto, em 1839, quando o segundo volume foi publicado, o instituto devolveu as edições, por retratar demasiadamente a vida dos negros.

Para Leenhart, “Debret era um estrangeiro, mas não era um viajante. Tinha a distância necessária, uma visão despida de preconceitos. Possuía uma visão enormemente adiantada para seu tempo”.

Para provar ainda mais isso, Leenhart cita uma carta de Debret para um de seus alunos, datada de 1842. Nela, Debret escreve: “Informe-se sobre o daguerreotipo”. Assim, ao apontar interesse no processo fotográfico, Debret demonstrava uma visão do futuro e uma coerência com sua obra, que procurava documentar com veracidade o ambiente em transformação onde vivia.

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