São Paulo (AUN - USP) - A relação entre gêneros de filmes e a performance do mercado cinematográfico brasileiro é tema de pesquisa de Roberto Moreira, professor de Direção, de Dramaturgia e de Roteiro no Departamento de Cinema, Televisão e Rádio, na Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP).
O professor defende que a cultura dos cineastas hoje, no Brasil, é desvinculada da cultura de mercado e do interesse do público. Isso acontece pela ausência de tradição em produzir filmes de gêneros clássicos no país, como ação ou comédia. Para provar isso, Roberto Moreira examinou a quantidade de público e a de filmes por gênero entre as 20 maiores bilheterias nacionais entre 1998 e 2009, dividindo os gêneros entre comédia, drama, ação, infantil e documentário.
Drama e comédia dominam o mercado brasileiro, enquanto o público de filmes de ação e documentário são 20 vezes menores que o gênero drámatico. No entanto, esse predomínio do gênero drama é explicado pela grande oferta desses filmes. No período analisado, foram lançados 254 filmes dramáticos, contra apenas 21 filmes de ação.
Documentário também se destaca na oferta, com quase 200 filmes lançados, o que, segundo Moreira, expõe o resultado do paternalismo das leis de incentivo de cultura, descoladas da cultura de mercado.
Porém, ao se cruzar o número de espectadores, que representaria a demanda, com a oferta de filmes brasileiros, o resultado surpreende. Na bilheteria média, o gênero infantil, seguido de comédia, se destacam, escancarando uma grande demanda do público por esses gêneros, que poderiam ser ainda mais explorados pelo cinema nacional. Já drama e documentário provam ter uma excessiva oferta de filmes, principalmente os documentários, que atingem somente uma média de 15 mil espectadores por filme.
Tira-se, assim, algumas conclusões da análise dos dados. A pretensão do cinema brasileiro, seus cineastas e seus incentivos em ser voz nacional, produzindo dramas e documentários em excesso, esquece o entretenimento. Roberto Moreira não defende uma cruzada contra os gêneros, mas, sim, uma cultura de investimento coerente com o mercado nacional. Ao descolar a produção cinematográfica, acaba-se, segundo Moreira, por atrasar o desenvolvimento de uma indústria cinematográfica e diminuir o volume de filmes.