ISSN 2359-5191

06/09/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 82 - Saúde - Faculdade de Saúde Pública
Prostituição masculina é tema de pesquisa na Saúde Pública

São Paulo (AUN - USP) - A prostituição masculina é o tema da tese de doutorado da psicóloga Clara Cavalcante, mestre em políticas sociais e doutora pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Intitulada O Negócio do Prazer Remunerado nos Discursos de Garotos Que Fazem Programa, a pesquisa apresenta a questão a partir de um ponto de vista livre de estigmas e dos discursos patologizantes muito comuns à produção acadêmica da área da saúde quando se trata desse assunto.

Atuando como coordenadora do Programa de DSTs/HIV/AIDS da Secretaria de Saúde de Jandira, Clara teve contato com alguns garotos de programa que a informaram da existência de uma área de prostituição masculina em Osasco, onde decidiu realizar seu trabalho de campo. Ela conta que, na primeira visita, foram necessárias mais de 6 horas para localizar o lugar exato onde atuam esses garotos, uma região de aproximadamente 800 metros de extensão na Av. Marechal Rondon.

Segundo ela, o contexto heteronormativo em que vivem esses rapazes faz com que a maior parte deles negue o prazer envolvido nessa prática. A maioria tem entre 16 e 35 anos e justifica a prostituição unicamente pela necessidade financeira, sem admitir a existência de qualquer prazer ou satisfação envolvidos nos programas, exceto quando são procurados por mulheres. Outro dado importante é que, apesar de a maioria das relações serem praticadas com outros homens, quase todos eles afirmam-se heterossexuais e declaram não gostar de fazer sexo com homens, comportamento que, segundo a pesquisadora, mostrou-se um fator de sedução de clientes.

Clara discorre, em sua pesquisa, sobre algumas questões essenciais à compreensão da dinâmica da prostituição masculina, como a inconstância da prática, os códigos e hierarquias sexuais estabelecidos, a negligência por parte do sistema público de saúde, a ameaça da violência, entre outras.

Muitos dos garotos que serviram de objeto de estudo para a psicóloga relataram que sofriam ataques constantes de grupos de usuários de drogas frequentadores da mesma região e também da própria polícia. Clara conta que, ao longo da pesquisa de campo, dois deles relataram uma situação na qual sofreram abuso sexual de policiais. Na ocasião, um deles foi forçado a fazer sexo oral no outro até a ejaculação, e depois engolir seu esperma, para que os policiais — portando armas e cassetetes — pudessem assistir à cena. "Quem seria responsabilizado, perante o sistema de saúde, caso um desses dois contraísse uma doença?", questiona a pesquisadora.

Segundo ela, ao contrário de prostitutas e travestis, esses garotos não são facilmente identificáveis, o que os condena à invisibilidade, à negligência e a uma fragilidade social muito intensa. Além disso, muitos deles não admitem que fazem programas, devido à estigmatização, à condição marginal da profissão e, acima de tudo, a uma necessidade de manutenção de sua posição de masculinidade e heterossexualidade perante a sociedade.

Tais aspectos — em especial a invisibilidade e as consequências dela — colocam esses rapazes em situações de extrema vulnerabilidade. É o caso do atendimento público de saúde. Clara explica que, em unidades de atendimento médico primário, a sexualidade dessas pessoas é completamente negligenciada. "Quando é reconhecida, geralmente é interpretada como uma questão de natureza heterossexual e de reprodução", afirma. Restam apenas as unidades voltadas à prevenção e tratamento de DSTs, que muitas vezes são evitadas devido aos estigmas associados a elas. Ainda assim, segundo a pesquisadora, falta um atendimento médico capaz de dar a devida atenção às necessidades de saúde desses garotos que fazem programas, que precisam, acima de tudo, ser ouvidos.

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