ISSN 2359-5191

06/09/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 82 - Arte e Cultura - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
Produção musical é mais independente, mas divulgação é obstáculo

São Paulo (AUN - USP) - “Hoje o músico deve ser o empresário de si mesmo. Por conta do desenvolvimento tecnológico, o músico não só deve dominar minimamente a linguagem da música, mas, fundamentalmente, deve dominar a linguagem do capital.” A afirmação é de José Paulo Guedes Pinto, autor da tese de doutorado No ritmo do capital: indústria fonográfica e subsunção do trabalho criativo antes e depois do MP3, realizada na Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP.

Segundo Guedes, as novas tecnologias da indústria fonográfica baratearam a produção e os modernos meios de comunicação tornaram a reprodução e distribuição da música muito mais simples e também diminuíram seus custos.

Ele afirma que o custo de produção fonográfica caiu bruscamente da década de 1990 para a atual. Montar um estúdio em 1995, por exemplo, custava cerca de R$ 600 mil (em valores corrigidos) e hoje custa cerca de R$ 10 mil. Isso proporcionou aos músicos mais independência para produção e manteve o custo de reprodução das músicas em um valor próximo do nulo, no caso de disponibilizar o conteúdo na internet.

“Por um lado, essa mudança foi positiva, pois o músico, ao se tornar proprietário dos meios de produção, está cada vez menos subordinado à figura do produtor fonográfico. Com isso, a atividade criativa ganha espaço e a música pode evoluir.”

No entanto, ele afirma que a distribuição, promoção e difusão do “produto” cultural ainda devem ser problemas para os músicos, já que a divulgação ainda é mais eficiente quando feita por conglomerados de imprensa e entretenimento. “A intimidade com as ferramentas do marketing, da publicidade e de outras disciplinas afins já começa a se tornar condição mínima para iniciar uma carreira capaz de ‘cair nas graças’ da rede de contatos midiáticos de uma grande gravadora”, afirma Guedes.

Embora haja essa dificuldade de divulgação, o pesquisador afirma que no mercado fonográfico o modo de produção capitalista já é um sistema potencialmente supérfluo e “facilmente superável como um modelo de exploração e produção e como incentivador da criação estética”. Ele conclui: “Pode-se dizer que a música é feita hoje apesar do capitalismo, e não por meio dele”.

Guedes afirma que um novo modelo de negócio fonográfico é o “star system, ou seja, mais do que tentar fazer com que o consumidor compre CDs, DVDs, entradas de concertos, a indústria procura persuadir o consumidor a identificar-se com seus artistas, para depois ganhar com isso ― seja cobrando os consumidores diretamente, seja cobrando as empresas que utilizam as músicas que estão sob sua propriedade intelectual, em casos de merchandising e comerciais, passando a ganhar com o comércio intra-empresas”.

Aliado a esse tipo de cobrança está a alta repressão em relação aos direitos de propriedade intelectual e a venda digital em países desenvolvidos, onde a questão da propriedade intelectual é levada muito a sério. Ele afirma que “o Brasil, infelizmente, caminha neste sentido de reformas policialescas para aumentar o combate à chamada ‘pirataria’”.

Guedes afirma que a tese ainda não foi publicada, mas que tem o desejo de fazê-lo. A ideia do trabalho surgiu quando participava da pesquisa Acesso a bens educacionais e culturais no Brasil, do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação da USP. Ele afirma que para o consumidor, a música hoje está mais barata devido a novos modelos de negócios, como o Itunes, da Apple. No entanto, ele diz que, para o cidadão, o acesso a bens educacionais e culturais, como livros e música ainda não é satisfatório.

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