ISSN 2359-5191

06/11/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 104 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Pesquisa confronta origens de textos árabes

São Paulo (AUN - USP) - Um trabalho de Iniciação Científica desenvolvido na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, pelo graduando Pedro Ivo Dias Secco, do quarto ano do curso de Letras, estuda e compara as influências entre dois textos de origem árabe, inicialmente de gêneros distintos, mas que podem ter sido baseados no mesmo documento, o Fedro de Platão.

O pesquisador, de 23 anos, coletou um tratado sobre o amor, escrito no século 11 d.C., na região de Córdoba (Espanha), por Ibn Hazm, um intelectual dos domínios árabes no país europeu da época e o comparou com uma das histórias que compõem a famosa coleção As Mil e Uma Noites, um conto sobre os amantes Nūruddīn e Šamsunnahār, cuja datação é estimada entre os séculos 9 e 12 d.C. Para Secco, a cultura e literatura da região sempre foram objetos de interesse. “Minha família veio da região, por isso me identifico com essa cultura e essas obras, mas principalmente porque elas ainda são pouco exploradas academicamente, sobretudo no Brasil”, afirma ele. “Por exemplo, esse tratado, chamado de El collar de la Paloma, teve uma tradução do árabe para o espanhol, feita por Emilio García Gomez, e daí para outros idiomas, como o alemão e o inglês, mas não há versão em português”.

A pesquisa, entitulada De Al-Andalus às Mil e uma noites: o amor transcendental (fazendo referência a outro nome pelo qual Ibn Hazm ficou conhecido, Al-Andalus), tinha como objetivo inicial apenas traçar paralelos que assemelhassem as duas obras, mas com orientação do professor Mamede Mustafa Jarouche, do Departamento de Letras Orientais da FFLCH, o aluno levantou a hipótese de que as semelhanças eram, ao invés de coincidência, uma influência em comum entre os autores.

Uma possibilidade para isto seria que um autor tivesse tido acesso ao trabalho do outro durante a produção de seu texto, mas, segundo Secco, é improvável que isto tenha ocorrido. “É bem difícil crer que Ibn Hazm tenha baseado algo de sua obra no conto, pois ele cita todas as suas fontes. Da mesma forma, o autor do conto teria encontrado muita dificuldade para ler o Collar, por conta da censura sofrida por este livro, na época”, explica. “E além disso, o próprio Hazm admitiu ter tomado por base algumas ideias platônicas, as quais também circulavam em Bagdá à época do conto dos amantes, o que reforça essa teoria.”

O trabalho vem trazendo algumas “revelações interessantes”, como classifica o pesquisador. “Existe uma vasta literatura erótica árabe, que aborda o amor com um forte teor carnal, mas Nūruddīn e Šamsunnahār já toca em um conceito de amor mais espiritual, não corporal. O Hazm pintava a Córdoba daquele tempo mais conciliando o amor espiritual com o físico.”

Atualmente, Secco aponta que o principal foco do estudo é aproximar textos geograficamente distantes. “Quero marcar essa diminuição da ‘distância’ entre os dois mostrando com têm esta temática tão próxima”, afirma. “E dentro disso, seguir um pouco a linha do ‘Orientalismo’ revisto por Edward Said [intelectual palestino, morto em 2003] e perceber que o Ocidente e o Oriente não estão assim tão longe, como vemos neste exemplo de uma influência grega em textos árabes.”

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