ISSN 2359-5191

14/05/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 17 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Garrincha e Pelé além do futebol
Pesquisa discute a construção da identidade nacional através dos mitos de Garrincha e Pelé

Através dos ex jogadores de futebol Pelé e Garrincha, o pesquisador Denaldo Alchorne de Souza analisa a relação entre os ídolos nacionais do futebol e a construção da identidade brasileira entre os anos de 1958 a 1983 - a tese é desenvolvida junto ao  Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas sobre Futebol e Modalidades Lúdicas (Ludens), da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH) – O trabalho já resultou em um livro intitulado “O Brasil entra em campo! - Construções e reconstruções da identidade nacional (1930-1947)”.

A pesquisa objetiva mostrar que a construção da identidade nacional é composta por um conjunto de vários atores sociais, desde grupos das elites até grupos mais populares. Através de três desses atores: a grande imprensa comercial, o estado e os trabalhadores, a pesquisa analisou, em jornais, documentos oficiais e mitos populares, o enquadramento das imagens, ao longo das décadas de 50 a 80, de dois dos mais importantes jogadores brasileiros: Manuel Francisco dos Santos, o Garrincha, e Edson Arantes do Nascimento, o Pelé.

Pelé iniciou sua carreira muito jovem, com apenas 17 anos, e sempre foi alvo de elogios da imprensa e da sociedade, que acreditavam na sua “predestinação” para o futebol e que seria o jogador que traria muitos títulos ao Brasil. Essa suposta predestinação e excepcionalidade, aliadas a sua imagem de bom moço, disciplinado e bom filho, construída ao longo de sua carreira, fez com que Pelé sempre foi visto com bons olhos pela elite e pelo povo, em todos os conturbados períodos da sociedade brasileira durante a segunda metade do século 20.

Em contrapartida Garrincha, que iniciou sua carreira mais velho, depois de trabalhar como operário nas fábricas de sua cidade natal, Pau Grande (interior do RJ), ter dois filhos, e uma perna maior do que a outra, nunca foi visto como alguém predestinado a ser o bom jogador. Segundo o pesquisador: “Garrincha era excepcional por não ter nada de excepcional”, e isso o aproximava das camadas mais populares da sociedade. Entretanto sua vida boêmia e sua falta de disciplina foram, ao longo de sua carreira, alvos constantes das criticas da imprensa esportiva e das camadas mais conservadoras da sociedade brasileira. 

Com esses dois pesos diferentes, o do bom moço e representante da ordem de Pelé, e do indisciplinado e representante da desordem de Garrincha, é possível analisar uma brasilidade também vista, segundo o Alchorne, no artigo de Antônio Cândido “Dialética da Malandragem” sobre o livro “Memórias de um Sargento de Milícias”, onde as figuras de Leonardinho e do Sargento Vidigal, representam respectivamente a desordem e a ordem. Esse aspecto da sociedade brasileira, com exemplos na literatura e no esporte, é então visto como transitório, quando, dependendo da conjuntura, cada um desses extremos é posto em foco.

Nas décadas de 70 e 80, por exemplo, as figuras de Pelé como rei e de Garrincha como a “tristeza do povo” foram construídas e solidificadas pela imprensa e pelo estado, para que a sociedade se espelhasse não no desordeiro Garrincha, mas no bom exemplo Pelé. Entretanto, no caso de Garrincha, a pesquisa mostrou que o ator social mais popular teve maior influência na atual imagem do jogador, ao contrário de Pelé que sempre teve o apoio da imprensa e das elites. Grande parte da sociedade não absorveu essa tentativa de enquadramento da imagem de Garrincha construída pela imprensa. Em seu enterro, por exemplo, uma multidão acompanhou o corpo do jogador, desde o IML ao cemitério. A partir de então sua imagem de herói foi oportunamente resgatada pela imprensa e solidificada como mito, provando que a construção de um imaginário social não depende somente daqueles que comumente têm influência nas opiniões da sociedade.



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