ISSN 2359-5191

14/05/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 17 - Sociedade - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Ciclo de palestras aborda áreas com que a arquitetura se relaciona

Com o lançamento da revista Contraste, foi realizado um ciclo de palestras sobre a forma com que a arquitetura se relaciona com diversos aspectos da vida social. Os temas das palestras foram: "Arquitetura, Cultura e Identidade"; "Mudanças e permanências das artes contemporâneas" e "Niemeyer, Artigas e as heranças da arquitetura moderna". Essas palestras, que ocorreram no piso do museu da FAU, buscavam fazer com que se repensasse a maneira de tratar a arquitetura e exemplificar campos que mesmo sem ser diretamente voltados para ela, têm uma grande influência em algumas de suas formas de trabalho.


Cultura e Identidade
Nesse primeiro dia de palestra, o professor Luis Antonio Jorge, da FAU, trabalha a relação da literatura com a paisagem cultural, dando ênfase na obra de Guimarães Rosa. Ele ressalta a forma como esse importante escritor da literatura brasileira retrata a paisagem do sertão como uma forma de indagar a cultura do país.
Para Jorge, a literatura pautou temas, realizou formas e construiu uma cultura. Certo de que essa forma de expressão é capaz de conduzir outras, teve a ideia de construir um carro de bois, pautado apenas num conto de Guimarães Rosa e numa análise do objeto e dos bois que o conduzem feita por João Cabral de Melo Neto.
Percorreu o sertão mineiro pelo mesmo caminho feito por Rosa, baseado nas pistas que esse dava em sua literatura. Observou a arquitetura e a organização das cidades de lá. Nessa viagem ele constatou que a arquitetura local tem um padrão bastante conhecido e que o seu lado pobre se baseia na mesma forma de construção do lado rico.
Após mostrar como foi essa viagem e o processo de construção desse objeto tão característico, o professor Jorge deu a palavra a Marcelo Ferraz, da Brasil Arquitetura, que ressaltou a contradição e a importância de se falar sobre a construção de um carro de bois numa metrópole como São Paulo.
Atraído por arquitetura rural e indígena, Ferraz ressalta que a cultura de um povo é a sua identidade. "Mesmo sem tanto estudo, essas pessoas tem uma enorme sabedoria, que é passada de pai para filho" – afirma ele. Com um projeto no "sertão" do sul do país, Ferraz acredita que é preciso usar a arquitetura a serviço de uma melhoria da qualidade de vida da população.


Mudanças e permanências
Giselle Bielgueman, professora da FAU, no segundo dia de palestra, falou sobre o que ela chama de "Memórias do futuro de uma arte sem passado", ou seja, abordou os processos de memorização da arte que é produzida atualmente, especialmente no mundo digital.
Giselle afirmou que a cultura dos tempos atuais é mediada integralmente num processo de digitalização, que leva a sociedade a correr o risco de uma perda das coisas que são produzidas, uma vez que o tempo de duração do conteúdo digital é mais efêmero que o tempo de duração de um conteúdo propriamente físico.
Devido à rápida atualização dos programas digitais, coisas que foram produzidas num determinado formato de arquivo há 15 anos, não abrem mais, pois esse formato não condiz com os programas utilizados atualmente.
Nesse meio digital também tem o problema da quantidade de arquivos produzidos, que pelo seu tamanho, acaba fazendo com que as coisas logo caiam no esquecimento. Giselle apresentou alguns dados sobre a quantidade de coisas que vão parar na internet. Por exemplo, em um segundo, três mil fotos são subidas no Flickr. Em um dia, cinco milhões de fotos são postadas no Instagram e o conteúdo colocado em uma semana no Youtube supera 60 anos de conteúdo produzido pelas três maiores emissoras dos EUA somadas.
"Em um mundo construído de memória, o que prevalece é a arquitetura do esquecimento", afirma a professora, ressaltando que é necessário pensar a memória transcendendo o discurso do marketing da indústria de informática que transforma tudo o que é produzido em commodities. Ao dar o exemplo do que poderia acontecer se o Youtube falisse e todo o seu conteúdo fosse excluído, ela diz que uma quantidade gigantesca de informações seria perdida e a memória de toda uma geração seria esquecida.


As heranças da arquitetura moderna
No encerramento, Rodrigo Queiroz e Mônica Junqueira, ambos professores da FAU, falaram sobre o que fica na cabeça das pessoas quando os nomes, respectivamente, Niemeyer e Artigas são citados. Ressaltando o porquê de cada aspecto fazer parte da simbologia construída em torno de cada uma dessas personalidades, eles abriram espaço para a discussão que Luiz Recamán trouxe posteriormente.
Recamán, também professor da FAU, mostrou que as dificuldades que o Brasil passava ficavam alheias à independência que o sistema arquitetônico possuía ao falar de como a arquitetura moderna brasileira, na era Vargas (1930 a 1945) – em especial durante o Estado Novo – se relacionava à arquitetura moderna internacional e à conjuntura local. O sistema, com toda a sua grandeza, se contrapunha à realidade social de pobreza e periferia das cidades brasileiras.
Ele afirmou que a questão urbana era deixada de lado por Niemeyer e por Artigas, que jogavam tudo para o plano de "país do futuro" e encerrou o ciclo de palestras falando que pensar em arquitetura hoje é fazer uma crítica a essa determinação.

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