ISSN 2359-5191

14/05/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 17 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Ciências Biomédicas
Pesquisa premiada desenvolve novos fármacos para tratamento da esquistossomose

Doenças negligenciadas são patologias causadas por agentes infecciosos e parasitários, como a doença de Chagas, a esquistossomose, as leishmanioses, a ascaridíase, entre outras moléstias. Essas doenças atingem, principalmente, populações de baixa renda, sendo consideradas endêmicas em muitos países da África, Ásia e América Latina. O termo negligenciada é usado pois essas enfermidades costumam não provocar o interesse da indústria farmacêutica para o desenvolvimento de remédios e vacinas. Outro ponto é que o investimento em pesquisa neste setor também é pouco privilegiado, contando com poucos recursos e, como consequência, há escassez nos tratamentos. Foi devido a esse cenário que Josué de Moraes, doutor pelo ICB (Instituto de Ciências Biomédicas da USP), decidiu concentrar sua pesquisa na descoberta de novos fármacos que possam combater essas doenças: “Meu objetivo é encontrar moléculas de origem natural, especialmente plantas, para combater as doenças da pobreza, sobretudo a esquistossomose”.

Esta é uma doença causada por um platelminto (vermes achatados, algumas espécies são parasitas) que tem o homem como hospedeiro definitivo, mas precisa também de seu hospedeiro intermediário, caramujos de água doce (no Brasil, do gênero Biomphalaria), para completar seu ciclo evolutivo. Em palestra ministrada no ICB, Moraes afirmou que, hoje, em todo o mundo, existem mais de 200 milhões de infectados e cerca de 800 milhões de pessoas correm risco de serem acometidas pela doença. Além disso, a esquistossomose é a causa da morte de mais de 250 mil pessoas por ano no mundo e é, segundo ele, a doença parasitária de maior morbidade e mortalidade no cenário mundial. No Brasil, o quadro não é diferente. A doença é considerada endêmica em 19 estados e entre seis a oito milhões estão infectados. A população ameaçada também é alta, cerca de uma em oito pessoas correm risco de serem contaminadas. Apesar de menos comentada, a esquistossomose é causa de mais óbitos que a dengue, a leishmaniose visceral e a malária.


CVE (Centro de Vigilância Epidemiológica) - 2009

 Para se controlar a esquistossomose, e outras doenças de mesma procedência, é preciso uma boa rede de saneamento básico e conscientização da população na importância das medidas de higiene, além do combate ao hospedeiro intermediário e do tratamento dos indivíduos já contaminados.

Tratamento quimioterápico e busca por novas drogas

 A pesquisa por medicamentos dedicados ao tratamento das doenças negligenciadas é rara. De acordo com artigo publicado na revista Lancet, entre 1975 e 2004, 1.556 remédios foram fabricados. Destes, apenas 21 dedicados a doenças negligenciadas. Segundo Josué, no caso da esquistossomose, o fármaco utilizado atualmente para tratamento é o praziquantel. Contudo, seu uso extensivo e inapropriado culminou no aparecimento da resistência ao mesmo. E o surgimento da resistência não é a única desvantagem do praziquantel. Apesar de ser eficaz contra todas as espécies do agente etiológico da esquistossomose, ele não reduz a oviposição nas doses subletais nem afeta as fases jovens do platelminto. Sendo assim, não é efetivo tomá-lo logo após ser infectado.

 Por isso, a criação de novas drogas é essencial. Indo em direção a isso, Moraes começou a avaliar produtos de origem natural. Recentemente, compostos com atividade esquistossomicida (potencial para matar o platelminto da esquistossomose) promissora foram identificados. “Todos os compostos [identificados] têm alto rendimento, baixo custo e potencial para ser um produto no mercado”, afirma o pesquisador. Destes compostos, destacam-se a epiisopiloturina e a piplartina. A primeira é obtida de um resíduo industrial de um alcalóide das folhas do jaborandi, encontrada em colaboração com o professor José Roberto Leite da UFPI (Universidade Federal do Piauí). Essa substância conseguiu, a 150 microgramas/mililitro, mortalidade total de machos e fêmeas do platelminto, além de reduzir em 100% a oviposição, o que interrompe o ciclo de desenvolvimento do platelminto. Atua também no verme jovem, tendo efeito antiparasitário independente da idade.

 O outro composto, a piplartina, amida (substância que apresenta o nitrogênio ligado a um grupo carbonila) encontrada nas raízes da Piper tuberculatum, a “pimenta-longa”, cujo estudo foi feito com a colaboração do professor Massuo Jorge Kato do IQ (Instituto de Química da USP),  tem efeito antiparasitário em baixa quantidade.

 Além do baixo investimento, existem outros desafios na pesquisa de novos fármacos. A falta de um ensaio in vitro de fácil execução, reprodutível e rápido, a dificuldade em se conhecer os diferentes aspectos do parasita e alvos são alguns desses desafios. Mesmo com esses entraves, é preciso, para que essas doenças não se difundam ainda mais, que apareçam novas iniciativas no combate a elas.

Repercussão

 Além de publicar diversos artigos sobre a pesquisa, a descoberta desses novos compostos levou a seis pedidos de patentes junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e também à primeira colocação no Prêmio Vale-Capes de Ciência e Sustentabilidade na área de “Tecnologias sociambientais, com ênfase no combate à pobreza”.

 



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