A tese Design sem fronteiras: a relação entre o nomadismo e a sustentabilidade, de autoria da professora Lara Leite Barbosa, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU), mostra que as condutas do modo de vida nômade auxiliam na concepção de produtos de menor impacto ambiental possível. Com base nessa ideia, propõe novas diretrizes para projetos em design, as quais levam em conta a sustentabilidade.
O primeiro conceito com o qual deve-se tomar cuidado é o do nômade. De acordo com a pesquisadora, a apropriação desse termo alterou-o de seu significado original. Confunde-se povos nômades por necessidade com nômades por escolha, os quais são chamados antinômades. Enquanto o nomadismo tradicional trata a viagem como modo de sobrevivência, o antinomadismo trata-a como entretenimento. Dessa maneira, diferenciam-se povos caçadores, coletores e pastoralistas de simples turistas.
O estudo mostra que a subsistência nos mais variados locais faz com que o nômade tenha uma relação de entrosamento com o ambiente em que está inserido. O uso de materiais e técnicas de construção é vernacular, ou seja, utiliza dos recursos e das experiências locais. Essa liberdade faz com que grupos nômades sejam capazes de se adaptarem mais facilmente às diferentes áreas, além de serem mais econômicos. Eles evitam aumentar suas posses, que se resumem àquilo que for necessário para as viagens, ao contrário dos antinômades, que compram objetos ao longo do caminho.
Essa simplicidade e constante locomoção remetem à sustentabilidade na medida em que habitações, móveis e objetos devem ser reutilizados e flexíveis para viagens. Para produtos mais sustentáveis, o design poderia levar em conta esses fatores. "Um caminho para adequar o design tanto para aqueles que migram por necessidade, por escolha ou condições aleatórias seria o de propor habitações e objetos que incluam o aspecto temporal [de permanência nômade em certo lugar]", diz Lara. Um exemplo são os edifícios móveis, que permitem ter seus componentes inteiros transportados por veículos ou desmontados para facilitar o transporte. As divisões entre tipos de design, nesse caso, são atenuadas: a edificação passa a ser uma espécie de mobiliário carregável. Os limites entre moda, arquitetura e design de interores começam a desaparecer.
Sobre a influência nômade sobre grandes cidades, a professora acredita que as novas pessoas e novas vivências que constantemente formam as metrópoles podem criar diretrizes projetuais ainda mais novas, diferente do que é adotado em comunidades nômades. "Mas é possível iniciar algumas ideias a partir desta combinação".
Os estudos em cima deste tema foram iniciados a partir de um questionamento presente na vida da pesquisadora. "Contabilizei quase trinta mudanças de residência e percebia diversas inadequações do ponto de vista do design", ela relembra. A tese se transformou em livro em 2012 e ganhou a terceira posição no Prêmio Jabuti 2013, na categoria Arquitetura e Urbanismo. Sobre o reconhecimento, Lara acredita que "nos tempos atuais há uma busca por mudanças, todos procuramos rever nossos hábitos cotidianos de forma mais consciente".