ISSN 2359-5191

29/11/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 108 - Arte e Cultura - Instituto de Estudos Brasileiros
‘Jacaré’ marca exposição de gravuras
Gravurista Marcelo Grassmann recebe homenagem póstuma em livro e exposição
Reprodução Marcelo Grassmann

Um jacaré malandro é a assinatura do gravurista Marcelo Grassman em seu caderno de desenhos. Este livro ganha uma edição fac-simile (uma cópia fiel), editada pela Edusp, e vem junto com a obra Marcelo Grassmann 1942-1955, de Leon Kossovitch e Mayra Laudana. Para homenagear o artista, falecido em junho deste ano, a professora do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), Mayra Laudana organizou também a exposição Marcelo Grassmann 1925-2013, que traz trabalhos do artista desde o início de sua carreira e ocupa duas salas da Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo.

Amiga pessoal do gravurista, Mayra é responsável pela curadoria da exposição. A pesquisadora conta que começou a indexar as obras de Grassmann – ainda sem muitas intenções – há 18 anos. Foram muitas as obras catalogadas, em destaque algumas peças em jornais e coleções. Mayra organizou também toda a coleção da Pinacoteca do Estado, no final dos anos 90.

“Resolvemos fazer uma homenagem a ele”, conta a professora sobre a estreia da exposição no lançamento de seu livro. “É para não ficar sem a presença, de alguma forma, do Marcelo Grassmann”. Estava nos planos de Mayra e Leon organizar uma sessão de autógrafos com o artista, substituída agora por um carimbo com sua assinatura em edições limitadas. Para a pesquisadora, não havia lugar melhor para receber tanto o lançamento quanto a exposição do que a Biblioteca Mário de Andrade, centro de efervescência intelectual e espaço muito utilizado para consulta por artistas da época de Grassmann.

Arte na Biblioteca

A Biblioteca Mário de Andrade, antes chamada de Biblioteca Municipal, era ponto de encontro dos estudantes que iam ao lugar para aprender mais sobre obras de arte. Como a cidade, em 1945, não tinha tantos museus, os estudantes buscavam inspiração e entravam e contato com os trabalhos mais recentes a partir da sua coleção de livros, além é claro, de oferecer espaço para discussão sobre arte com autores convidados a debater sobre o assunto. “A São Paulo que vocês conhecem hoje é uma coisa inexistente na década de 1940”, conta a professora sobre os espaços de arte na cidade.

A curadora acredita que a presença da exposição na Biblioteca tem como função mostrar as passagens dos artistas pelo local, mostrar como é que a Mário de Andrade – à época Biblioteca Municipal – era importante para os gravadores. As gravuras, inicialmente, tinham que ser doadas para a biblioteca, quando impressas, por serem entendidas como uma arte ligada aos livros.


Gravura de Grassmann, reprodução.

Madeira, metal e pedra

Para a organização da exposição, foram destinadas duas salas da Mário de Andrade. Na primeira, conta a professora, estão as xilogravuras (gravuras feitas com entalhes em madeira). Estas são as obras iniciais da carreira do artista – há algumas que estão datadas entre 1949 e 1951. Ainda neste primeiro espaço estão alocadas as primeiras calcogravuras de Grassman. Calcogravuras são impressões que têm como base uma placa de metal desgastado com algum tipo de ácido ou material corrosivo. Foi esta a técnica mais utilizada pelo gravurista em sua vida.

Se destacam os usos de gravuras em metal ao estilo água-forte e água-tinta, mas o artista não se limita a estas técnicas de gravação, conferidas na segunda sala de exposição que privilegia justamente a calcogravura com obras de 1960 até 1980. Há também um material mais recente do artista que data de 2008: são as litogravuras (feitas em pedra) que fazem parte de um álbum de litografia de sua autoria.

Para Gugu do Dádá, em Lua de Mel

A proposta do livro surgiu a partir de um convite do professor, que foi orientador de Mayra, Leon Kossowitch. Os dois, durante o processo, acreditaram que a produção de um fac-simile de um dos cadernos de Grossmann seria de grande importância para compreender todo o trabalho do artista. A que acompanha a Marcelo Grassmann 1942-1955 é a reprodução de um caderno de trabalho dele, feito durante o período em que passou na Europa. Originalmente, o caderno foi um presente que Grassmann deu à sua esposa após o casamento. “Se casaram lá e ele dá de presente de casamento para ela com aquele símbolo do jacaré desenhado, que é tipo o malandrinho”, revela Mayra. Em seguida, o artista dedica o caderno à sua esposa, escrevendo nas primeiras páginas: ‘Para Gugu do Dádá, em nossa lua de mel’, onde tanto lua, quanto mel estão representados respectivamente por pequenas ilustrações de uma lua e abelha, assinado com o seu jacaré bem-humorado. “Não interferimos em nada, fizemos o melhor possível, com os melhores cuidados possíveis”, diz a pesquisadora..

Este caderno ilustra o imaginário do artista. Apresenta que sua formação não se transformou completamente no período em que viveu na Europa. “Ele aqui já é isso”, conta Mayra sobre as representações de seres fantásticos presentes no caderno. A pesquisadora afirma que é o próprio processo que resulta nestes ‘seres’, sem, é claro, deixar de lado o humor com humor ‘negríssimo’ presente em seu trabalho. “Se aquele desenho, por exemplo, sugerir para ele puxar um rabinho, ele puxa”.

Serviço
Dias: 13/11/13 a 14/01/14.

Horário de visitação: das 10 às 18 horas.
Local: Hemeroteca Mário de Andrade, R. Bráulio Gomes, 125/139. Sala de exposições, 1o andar.
Entrada Franca.


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