ISSN 2359-5191

18/02/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 130 - Saúde - Faculdade de Odontologia
Placa para bruxismo pode influenciar a apneia do sono
Trabalhos foram realizados em parceria com Instituto do Sono
Pesquisas têm estudado como o aparelho pode atuar durante o bloqueio das vias respiratórias, comuns à apneia (Imagem: Laboratório Flores)

Apneia e bruxismo são dois distúrbios do sono que acometem grande parte da população, e inclusive podem acontecer simultaneamente. Pesquisas da Faculdade de Odontologia visam a entender o funcionamento de aparelhos intraorais de avanço mandibular e de placas miorrelaxantes durante momentos em que a via respiratória está bloqueada. Essa condição pode ser ainda mais prejudicial para idosos, que já não têm a mesma tonicidade da musculatura que compõe a via aérea superior.

Para quem tem bruxismo, uma medida que tem sido recomendada é o uso de placa miorrelaxante, que relaxa (sei que parece redundante, mas é o termo correto) a musculatura daqueles que têm o costume de apertar ou ranger os dentes. Mas nenhum estudo, até então, avaliou decisivamente o que essa placa pode provocar em quem tem apneia. Conforme explica Thiago Carôso Fróes, aluno de doutorado da FO, os dentistas não estão acostumados a diagnosticar quem tem apneia concomitantemente ao bruxismo, então não distinguem em quem colocarão placa. “Com isso, podem agravar um problema que pode matar”. Em São Paulo, cerca de três, em cada dez adultos tem apneia. É um problema de saúde pública que gera inúmeras consequências como hipertensão arterial e maior chance de ocorrer acidentes de carro. A noite mal dormida pode fazer com que motoristas fiquem sonolentos e isso facilita os acidentes no trânsito.

Apneia e risco cardíaco

O que acontece com quem tem apneia é que, em determinado momento, não se respira ar “novo”, e o oxigênio do corpo passa a ser consumido enquanto o sangue fica cheio de CO2. Para compensar isso, o coração entra em taquicardia, porque precisa bombear mais sangue por ter menos oxigênio em cada molécula de hemoglobina. Aí, se observado, o tórax do apneico passa a se movimentar fortemente – é a tentativa de romper essa barreira. E o transporte de oxigênio pelo sangue cai. O paciente fica sem respirar por um tempo e depois volta. “Se isso acontecer 70 vezes durante uma hora de sono, por exemplo, significa ter 70 paradas respiratórias neste período”, diz Fróes. A morte por parada respiratória não é a mais característica da apneia, que costuma matar aos poucos – deixa a população hipertensa, mesmo os jovens. Vários fatores levam ao óbito, mas os principais são as complicações cardíacas, sendo a hipertensão a mais significante.

Só que essas paradas não levam a pessoa ao despertar, somente ao microdespertar. “Ela sai de uma camada bem profunda de sono, se mexe, vira de lado, mas não acorda totalmente”, explica o pesquisador. “Quando chega pela manhã, já acorda cansada, porque na hora de dormir mesmo, não entrou na fase do sono que recarrega nossas energias, a fase REM.”

Em idosos essa condição é ainda mais grave, porque eles podem não ter força toráxica suficiente para romper o bloqueio aéreo, e então pode faltar oxigênio para o cérebro. Retirar a dentadura na hora de dormir, inclusive, faz com que a dimensão vertical de oclusão (DVO) diminua, é como se a “altura” da mordida ficasse menor. Isso também contribui para fechar a via área, aumentando as chances de apneia. Por isso, para os apneicos, não se recomenda mais dormir sem a prótese, somente retirá-la em períodos curtos. A própria prótese, confeccionada corretamente, já reestabelece a “altura bucal” (DVO) e acaba já sendo um tratamento para o distúrbio. Mas quando não fica na altura perfeita, ou quando a gravidade da apneia exige, aparelhos intraorais de avanço mandibular podem ser utilizados.

O padrão ouro de tratamento de apneia é o CPAP (Continuous Positive Airway Pressure, em inglês), máscara que injeta oxigênio enquanto se dorme. É um método muito caro ainda, por isso não sendo presente em toda a rede pública. Quando o paciente não se adapta ou não tem dinheiro para manter esse tratamento, existem alternativas como o aparelho intraoral que avança a mandíbula do paciente para liberar a via aérea. Fróes explica que já existem diversos modelos de aparelho intraoral consagrados na literatura como alternativa de tratamento para apneia, no entanto, novos aparelhos ainda estão em desenvolvimento, e já possuem bons resultados para quem tem apneia leve e moderada. O bruxismo, por sua vez, não tem causa definida ainda. A placa miorrelaxante é utilizada para evitar o desgaste dos dentes e para melhorar as dores na articulação temporomandibular. Mas a pergunta é: e quando o paciente tem apneia e bruxismo ao mesmo tempo?

A atuação conjunta

Parte do trabalho do Envelhecer Sorrindo e da pesquisa para a tese de doutorado de Thiago Fróes, realizadas em parceria com o Instituto do Sono, se dedica a estudar como a placa para bruxismo pode atuar diante da condição apneica. Já em uma etapa inicial, os pesquisadores visam a oferecer maior qualidade de vida aos pacientes. É importante que haja mudanças de hábitos antes da hora de se deitar, comportamentos conhecidos como higiene do sono; parar de beber antes de dormir, por exemplo, é uma das medidas. O álcool relaxa a musculatura e, para quem tem apneia, que é um problema que envolve os músculos da orofaringe, isso é prejudicial por facilitar o bloqueio da via aérea. “As pessoas têm uma sensação de que quando elas bebem, dormem melhor, porque iniciam o sono mais rapidamente. Mas o que acontece é que elas têm a latência para o sono diminuída, ou seja, iniciam o sono rápido e acham que estão no paraíso quando, na verdade, estão facilitando o bloqueio da passagem do ar e aumentando a probabilidade dos eventos de apneia”, diz o pesquisador.

Medidas preventivas

Segundo ele, para quem tem apneia, o ideal é dormir de lado ou de bruço. Também, estar em um ambiente escuro e com temperatura agradável. Outra medida é não praticar exercícios muito perto da hora de se deitar, porque a adrenalina liberada não facilita o descanço. Mas a atividade física em si é fundamental, já que a obesidade é o principal fator de risco para esta desordem. “Nós engordamos para dentro também, não só para fora. Então, quanto maior o sobrepeso, maior a quantidade de gordura na região interna da garganta, mais difícil de manter a respiração adequada durante o sono.”

Estudos internacionais que correlacionam ambas características têm mostrado que a placa mais usada no mundo, a de Michigan, pode levar à uma retrusão mandibular, o que contribuiria para o aumento dos eventos de apneia (partindo do pressuposto de que o que alivia a respiração é jogar a mandíbula para frente e aumentar o espaço da via aérea). A ideia dos estudos realizados na FO é provar que, diante do que se acredita em relação à musculatura e ao posicionamento final dessa mandíbula, a utilização da placa a leve para frente, e não para trás. O desenvolvimento do trabalho, até o momento, indica que a mandíbula se movimenta para trás no começo, mas para frente logo em seguida, por isso beneficia a passagem do ar e não atrapalha, como mostraram estudos anteriores.

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