ISSN 2359-5191

18/02/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 130 - Arte e Cultura - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Estudo destaca a influência de “Mil e Uma Noites” em Jorge Luís Borges

A obra de Jorge Luís Borges e sua literatura fantástica são tidas como uma das mais ricas da escrita contemporânea. A fim de investigar as raízes do imaginário do escritor argentino, Thais de Godoi Morais traçou paralelos e pontuou diversas referências intertextuais entre a obra de Borges e uma das mais clássicas narrativas de todos os tempos. O resultado foi sua dissertação de mestrado “O ‘Livro das Mil e Uma Noites’ em Jorge Luis Borges”, entregue ao Departamento de Letras Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP).

“O número de referências às Mil e Uma Noites em suas obras é grande. Sua ensaística, por exemplo, chega a tratar de problemas associados à tradução do livro árabe. Contos como El Sur e Los Dos Reyes y Los Dos Laberintos partem de ideias originadas da leitura das Noites”, diz a autora. Entre os traços comuns, ele aponta para o próprio ato de contar uma história como único meio de manutenção da sobrevivência de seu narrador, como é o caso da própria Sherazade, e também a ideia de infinitude. “Nas Noites, essa ideia é vista na sequência de emolduramentos narrativos criando um efeito mise en abyme (narrativa em abismo). Em Borges, essa noção de infinito se liga às intermináveis possibilidades da leitura auto-referente, metalinguística, que se utiliza da auto-alusão para manter um diálogo infinito com diversas outras obras da literatura universal”, continua.

Segundo Thais, os contos borgeanos apresentam dois procedimentos de hitpertextualidade: um de transformação e outro de imitação. “Quando ele produz um conto no estilo mileumanoitesco, trata-se de imitação. Como no caso de Os dois reis e de Hakim de Merv, em que não há a intenção de satirizar. Entre o lúdico e o satírico - logo, irônico - ele procura imitar um gênero: o conto árabe” diz. Já quando ele muda a ambientação e as personagens, seja para valorizá-las ou não, os lugares e as pessoas podem ser vistos como metáforas anacrônicas das imagens do texto árabe, tratando-se assim de uma transformação.

Para a autora, apesar de seu trabalho específico na relação com o escritor argentino, o estudo de paralelos entre As Mil e Uma Noites e diversas obras da literatura ocidental é muito importante, dada a relevância que a história árabe teve na formação cultural europeia. “O ato de contar, ato imemorial, relacionado com a experiência histórica da humanidade, fornece-nos um fértil campo para o estudo das culturas, além de conter em si mesmo o maior interesse para o estudioso da literatura”, diz ela.

“Em um tempo em que a comunicação de massa favorece a divulgação de textos de lugares antes isolados pelas distâncias geográficas, um dos melhores caminhos para se compreender a atual situação da literatura é o retorno às origens da narrativa, às formas tradicionais do conto”, continua. “Isso aprofunda a necessidade de um reconhecimento do valor da cultura árabe como patrimônio humano, uma revalorização do seu passado histórico e uma reavaliação do seu papel no mundo atual”, conclui.

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