ISSN 2359-5191

25/04/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 6 - Saúde - Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto
Açaí possui efeito protetor contra neurodegeneração
Fruta brasileira impede morte de neurônios em intoxicação por manganês
O açaí é um fruto nativo da Amazônia e também é conhecido por suas propriedades antienvelhecimento. Foto: CIFOR/Flickr

O manganês é essencial para o funcionamento do corpo humano, contribuindo para a constituição de ossos e para o metabolismo mitocondrial. No entanto, ele também é considerado um metal neurotóxico, que pode se acumular no cérebro, trazendo dano à função cognitiva e motora. Uma pesquisa recente, porém, mostra que bioativos presentes no açaí são capazes de proteger o cérebro contra a neurotoxicidade do manganês, graças a suas propriedades antioxidantes.

A degeneração de neurônios se dá pela alta afinidade do manganês com a dopamina. O metal degrada o neurotransmissor ao se ligar a ele, e se acumula nas regiões do cérebro com maior concentração da substância. “A perda de dopamina pode levar aos mais diversos danos neurodegenerativos”, conta a pesquisadora Vívian Santos, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas.

O acúmulo do manganês no cérebro leva anos para apresentar sintomas clínicos, que podem configurar um quadro de Parkinson ou de uma patologia específica, chamada manganismo, que apresenta os mesmos sintomas do mal, mas não responde aos mesmo medicamentos. O manganismo é comum entre pessoas que trabalham em minas, pois a exposição por vias respiratórias levam à absorção de quase dez vezes mais partículas do metal do que pela alimentação. Crianças intoxicadas também podem manifestar déficit de atenção e outros problemas de aprendizagem.

Ao analisar o açaí, Vívian surpreendeu-se a encontrar uma concentração altíssima de manganês. “A fruta não é conhecida por ser neurotóxica, muito pelo contrário. Então tentei isolar os elementos do extrato”, conta. O efeito neuroprotetor da fruta pode ser decorrente da concentração desse metal, que protegeria a própria planta dos efeitos negativos do manganês, através da produção de antioxidantes como metabólitos secundários.

Ainda não se sabe se o açaí impede o acúmulo do metal ou se impede os efeitos nocivos do elemento depositado no cérebro. “O que sabemos é que a pessoa que consome o açaí e se expõe ao manganês posteriormente tem uma proteção”, afirma a pesquisadora. Segundo ela, os compostos preventivos da fruta também estão presentes no vinho. “Mas o açaí possui um perfil um pouco diferente e uma concentração de antocianinas [substância que impede a formação de radicais livres, nocivos às células] muito maior”.

O grupo de pesquisa do qual Vívan faz parte estuda população ribeirinha do Pará. “Eles estão exposta a metilmercúrio, que é muito neurotóxico. Mas não têm efeitos. Uma das nossas hipóteses é de que o consumo de frutas exóticas da Amazônia, que é muito maior do que no resto do Brasil, pode ser protetor contra fatores neurodegenerativos”. Ela afirma que a população tem concentrações muito elevadas no sangue de metilmercúrio no sangue. Ainda não se estudou esse aspecto com relação ao manganês, mas espera-se que a que concentração sanguínea do metal também seja alta, sem que haja intoxicação. A pesquisadora acredita que há uma relação entre esse paradoxo e o consumo altíssimo de açaí por essas comunidades, que chega a dois litros por dia, por pessoa.

Para Vívian Santos, o próximo passo da pesquisa será identificar exatamente o que confere à fruta seu aspecto protetor. O extrato que analisou durante a pesquisa é ainda uma mistura de bioativos, que precisa ser isolado para que se possa encontrar a fração exata à qual se pode atribuir a proteção. Feito isso, é possível descobrir se o açaí também é capaz de proteger o ser humano dos danos de outros elementos neurotóxicos.

Ela destaca também a importância de se investigar mais profundamente quais das formas em que o manganês se manifesta seriam de fato intoxicantes. O arsênio, por exemplo, é muito famoso por sua toxicidade, mas está presente no arroz e em frutos do mar em forma não nociva. “O manganês tem varias funções biológicas. O excesso é que é ruim”.

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