Ao longo de mais de um século de existência, a Rua Augusta, que liga o centro de São Paulo ao bairro dos Jardins, na zona Oeste, passando pela avenida Paulista, passou por diversas transições arquitetônicas e de frequentadores. A centralidade da via a disposição que ganhou ao longo dos anos fez dela um dos mais conhecidos caminhos paulistanos, espaço de grandes movimentações sociais e eventos noturnos.
O estudioso Felipe Pissardo, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, buscou analisar as variações ocorridas na rua ao longo de sua história, na pesquisa “A rua apropriada: um estudo sobre as transformações e usos urbanos na Rua Augusta”. Separando sua tese nos períodos de 1890 a 1942, 1943 a 1975 e 1976 a 2013, mostrando a partir daí quais as mudanças mais relevantes no perfil da rua com o passar das décadas.
“A partir da análise das características de ocupação da Augusta em cada um dos períodos delimitados, foi possível perceber a complexa teia que envolve suas diversas fases”, disse Felipe, “são diversos processos sociais e urbanos, ação de atores distintos, apropriação por diferentes grupos e outros fatores. É a partir da articulação desses diferentes processos que a rua acabou sendo construída de forma heterogênea”.
Um dos aspectos que a pesquisa buscou compreender foi a recente explosão de empreendimentos noturnos e também de imóveis para moradia, comparada ao longo período de exclusão do local, considerado perigoso e degradado por abrigar em seu perímetro mais próximo ao centro, famosas casas de prostituição.
“A rua ficou sujeita às diversas mudanças dos centros econômicos da cidade, desde sua criação, no final do século XIX até a atualidade” explicou Felipe. “Entre 1990 e 2000 o crescimento da zona de negócios das avenidas Faria Lima e Luiz Carlos Berrini influenciou na crise do sistema hoteleiro e do comércio na Augusta, o que fortaleceu a imagem midiática de abandono e deterioração da rua”.
Com a análise também foi possível traçar um panorama de como as mudanças mais amplas na urbanidade também acabaram trazendo transformações para o microcosmo da rua Augusta. De acordo com o estudo “A rua é um produto e consequência dos fenômenos macro urbanos e transformações sócio espaciais, mas ao mesmo tempo transforma estes fatores de acordo com suas particularidades e apropriações estabelecidas pelas pessoas que frequentam seus espaços”.