ISSN 2359-5191

09/09/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 55 - Meio Ambiente - Instituto de Biociências
Estudos entomológicos encontram necessidade de colaboração internacional de pesquisadores da área
Pesquisas sobre gêneros de insetos raros podem fomentar o contato internacional entre pesquisadores da área

Nos dias de hoje, certas famílias no reino animal apresentam um alto nível de dificuldade de pesquisa devido à raridade da aparição de seus exemplares na natureza. Dentre estas, podemos citar a família Mydidae (que abriga algumas das maiores moscas do mundo), objeto de estudo da pesquisadora Julia Calhau, que em seu doutorado pelo Instituto de Biociências da USP propôs uma nova proposta de classificação para uma das subfamílias abrigadas nesse contexto.

Sempre despertando o fascínio de entomólogos acadêmicos e amadores por incluir as maiores moscas do mundo (algumas podendo chegar a impressionantes 6cm de comprimento), a família Mydidae ainda apresenta-se como um grupo de insetos raramente coletado. Isso deve-se, em certa medida, à dificuldade em encontrar seus espécimes, de forma que, para que sejam realizadas pesquisas dentro do campo, seja necessária a ajuda de toda uma comunidade internacional que se volte para a observação do meio para encontrar estes insetos.

Entre os campos de estudo que englobam a necessidade de coleta destes insetos está a própria classificação deles enquanto seres vivos - o que envolve o discernimento das características específicas que os qualificam dentro desta família e que tipo de função ecológica estes constituem em seus respectivos biomas. “No meu caso, que já vinha desenvolvendo projetos com Diptera (moscas e mosquitos) desde 1998, não foi diferente, e o doutorado foi uma grande oportunidade para desenvolver um estudo sistemático aprofundado com o grupo”, explica Julia. Em sua tese, a pesquisadora utiliza dados morfológicos e moleculares para apresentar uma hipótese de relacionamento filogenético (relação evolutiva entre grupos de organismos) entre espécies de diferentes grupos de Mydinae. “Pude testar se a classificação do grupo em tribos, subtribos e gêneros estava congruente com os chamados clados ou grupos naturais que apresento em minha hipótese”, comenta. As descobertas realizadas durante o processo de análise motivaram Julia a criar uma nova classificação para a subfamília Mydinae, uma vez que a classificação vigente não refletia seus grupos naturais.

O campo de estudo da sistemática filogenética já pode ser considerado tradição no Instituto de Biociências e no Museu de Zoologia (instituicão que também apoiou de Julia), e vêm contribuindo para que o Brasil hoje em dia seja um dos países com maior número de pesquisas na área. “Esse fato, a meu ver, é compatível com o fato de que o Brasil é detentor de grande parte da biodiversidade mundial, e portanto o conhecimento dessa biodiversidade é (ou deveria ser) interesse de Estado”, pontua a pesquisadora. Dessa forma, todo estudo dentro da ciência básica em biodiversidade é de grande importância tanto para a sociedade, já que é necessário conhecer a biodiversidade para conservá-la, ou ainda para possibilitar o desenvolvimento de pesquisas aplicadas. Com relação à comunidade científica, em especial à de dipteristas como Julia, o estudo contribui para um entendimento mais aprofundado da morfologia de Mydidae e de grupos próximos. Assim, tanto a morfologia quanto os dados moleculares obtidos poderão ser utilizados em estudos mais abrangentes, como em pesquisas filogenéticas para uma maior compreensão do relacionamento entre as diferentes linhagens de Diptera, ou em estudos focados em grupos menores dentro de Mydinae.

“O estudo dos Mydinae me proporcionou conhecer melhor o grupo por meio do estudo do material presente em coleções e de material coletado para a tese”, comenta a pesquisadora. “Pude constatar que havia algumas especies de Mydidae no América do Sul ainda não descritas, e isso motivou o desenvolvimento de meu pós-doutorado no Museu de Zoologia, recentemente finalizado”, completa. Além disso, a pesquisa ainda proporcionou à pesquisadora o contato com grupos de pesquisadores em escala internacional, favorecendo o câmbio de conhecimento e experiências entre os profissionais.

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