ISSN 2359-5191

15/10/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 71 - Saúde - Faculdade de Ciências Farmacêuticas
Novo modelo da Farmácia da USP propõe atendimento mais humanizado
Farmácia Universitária quer acompanhar evolução e respostas dos pacientes aos medicamentos
FARMUSP pretende colocar o farmacêutico mais próximo do paciente

No último dia 3 de outubro a Farmácia Universitária da USP recebeu seus primeiros três pacientes desde a implantação de seu novo modelo de atenção farmacêutica. Ao contrário da maioria das farmácias comerciais, que costumam apenas vender os remédios junto de algumas orientações, a FARMUSP pretende implantar o modelo de “seguimento farmacoterapêutico”, que visa um atendimento mais próximo do paciente e analisar suas respostas aos medicamentos oferecidos.

O projeto inicial da nova farmácia universitária é resultado de uma parceria com o Hospital Universitário e a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. Atenderá 150 pacientes do HU que tenham sido diagnosticados com câncer de próstata e sejam selecionados pelos médicos. O acompanhamento do paciente será realizado com consultas mensais aos farmacêuticos, que irão tirar eventuais dúvidas, analisar a evolução de seu quadro clínico e a efetividade dos medicamentos. Os remédios serão fornecidos de forma totalmente gratuita aos pacientes graças à parceria com a Secretaria de Saúde.

A ideia de passar a trabalhar por projetos e não mais comercializar medicamentos surgiu para resgatar o ideal de uma farmácia universitária, que, segundo a Resolução 480/2008 do Conselho Federal de Farmácia, tem como principal objetivo assegurar que os conhecimentos adquiridos pelos alunos possam ser aplicados futuramente em seu contexto social. “Criamos este novo modelo para cumprir com o tripé central da universidade, que é ensino, pesquisa e cultura e extensão”, afirma Silva Storpirtis, docente da USP responsável pela FARMUSP.

Para Storpirtis, buscar um modelo mais humanista e focado na atenção ao paciente corrobora com a decisão da Lei 13.021 de 8 de agosto de 2014, que modifica o conceito de farmácia. Se antes ela era definida legalmente como um estabelecimento comercial de medicamentos, a partir de agora ela passa a ser “uma unidade de prestação de serviços destinada a prestar assistência farmacêutica, assistência à saúde e orientação sanitária individual e coletiva”. “Com o novo modelo da FARMUSP, nós queremos ajudar na discussão dos modelos praticados nas farmácias-escola no Brasil e que isso ajude na discussão e implementação do novo conceito baseado na nova lei”, garantiu a docente.

A receptividade dos primeiros pacientes foi ótima, segundo a professora Maria Aparecida Nicoletti, a farmacêutica responsável pela FARMUSP. “Todos [os pacientes] foram unânimes ao dizer que ficaram surpresos com a qualidade do serviço e das instalações. Agora voltarão na semana seguinte para trazer todos os exames e anotações que pedimos para dar continuidade ao tratamento”, disse Nicoletti.

Silvia Storpirtis acha que o Brasil ainda tem muito que evoluir no conceito de ter o farmacêutico integrado à equipe de saúde. “O foco do farmacêutico deixou de ser o medicamento, que se tornou uma das ferramentas disponíveis para o tratamento, para voltar seu foco para o paciente. E todos os profissionais da equipe de saúde tem que passar a trabalhar em conjunto”, afirmou a professora, que disse que em países da Europa - como a Espanha, por exemplo – esse conceito já está muito mais desenvolvido.

Outros projetos

A FARMUSP vem trabalhando na construção de mais dois projetos. O primeiro é o projeto Programa de Pesquisa para o SUS (PPSUS), que visa desenvolver um método de seguimento farmacoterapêutico que possa ser aplicado ao SUS. “Nessas farmácias, como as que ficam em Unidades Básicas de Saúde, ainda é muito recente a presença do farmacêutico. Então suas atividades ficam muito restritas à gestão do estoque e à dispensação do medicamento [dar o remédio ao paciente com certo nível de informações]”, afirmou Silvia Storpirtis. A proposta é implementar o modelo de atenção farmacêutica, com maior interação entre os profissionais e o paciente, também nas farmácias do SUS.

O segundo é um projeto de inovação, com apoio da Fapesp, que pretende desenvolver um sistema informatizado para o Centro de Informação sobre Medicamentos (CIM) que a Farmácia Universitária possui. Com a ajuda dos médicos do Hospital Universitário, que encaminharão dúvidas sobre medicamentos via internet, será criado um banco de dados com as perguntas e as respostas que serão enviadas pela equipe da FARMUSP. No futuro, o CIM poderá ser consultado inclusive pela população, que terá suas dúvidas analisadas por uma equipe de farmacêuticos.

Greve na USP e desvinculação do HU

Os 116 dias de greve pelo qual passou a Universidade de São Paulo e a quase inatividade do Hospital Universitário durante este período atrasaram também o início do atendimento realizado pela FARMUSP. “Os processos todos param durante este período, mas neste ano houve o agravante da proposta de desvinculação do HU”, afirmou Maria Aparecida Nicoletti.

Silvia Storpirtis foi diretora técnica da divisão de Farmácia e Laboratório Clínico do Hospital Universitário durante 19 anos. “Eu vivenciei as tentativas de transformar o HU em um hospital-escola diferenciado por fazer assistência, ensino e pesquisa. Em minha opinião, a desvinculação do hospital é um prejuízo imensurável. Ela traria uma gestão diferente, mais distante ainda dos objetivos da Universidade”, afirmou a docente. “Quando você passa para outra administração, o foco deixa de ser o ensino, a pesquisa e a extensão, e começa a ter metas econômicas, é impossível fugir disso. E não adianta, qualidade custa. Se você reduz investimentos, a qualidade cai”, complementou Maria Aparecida Nicoletti.

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