ISSN 2359-5191

01/12/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 91 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Química
Projeto de compostagem do Zoológico de São Paulo é base para pesquisa
Técnica é aplicada como estratégia para lidar com resíduo orgânico do local e é fonte de estudos acerca da microbiota que abriga
Foto: Aline M. da Silva

A biodiversidade microbiológica do Parque Zoológico de São Paulo está sendo estudada pelo Instituto de Química da USP por meio dos professores João Carlos Setubal e Aline Maria da Silva. O enfoque é no processo de compostagem que acontece no parque e veio como solução para o descarte de seu lixo orgânico.

Segundo Setubal, seu destino anterior era um lixão existente dentro da própria área. Contaminação da água, mal cheiro e atração de urubus e ratos eram alguns dos problemas que a instituição enfrentava como consequência desse tipo de descarte. Foi em 2003, em meio a uma mudança administrativa, que a decisão de compostar os restos orgânicos foi tomada e o processo foi estabelecido por João Batista, diretor científico do Zoológico. “Foi um sucesso porque não só resolveu o problema que tinham mas também passou a gerar adubo para a fazenda do zoológico”, declara Setubal, referindo-se ao local mantido pela instituição em Araçoiaba da Serra. Lá, o adubo resultado da compostagem é usado na plantação de hortaliças que, por sua vez, são alimento para seus animais herbívoros. “Há um ciclo de sustentabilidade”, finaliza Aline.

 

O método da compostagem consiste na deposição de resíduos orgânicos de forma conjunta, de modo que o ponto de maturidade de sua degradação resulte em adubo. Isso é um processo orientado, no entanto, e há receitas para que a execução seja bem-sucedida. De acordo com Setubal, se a mistura começa a cheirar mal, é porque deu errado. “Se isso acontece, ao fim não se tem o produto desejado porque os dejetos orgânicos não foram processados como tinham de ser”. Aline acrescenta que, em algumas cidades do Reino Unido e dos EUA, a compostagem do lixo orgânico doméstico é obrigatória e individual, mas que esse não é o caso do Brasil. “Deve-se considerar o processo muito eficiente porque a natureza do material que entra lá é variada e complexa e, ao final, tudo vira adubo.”

A pesquisa dos professores investiga como ocorrem os processos de degradação de biomassa — isso é, os processos de degradação dos componentes orgânicos da compostagem realizados por microorganismos. Esses componentes podem ser desde gravetos até carcaças de animais mortos. O projeto se ampliou para duas vertentes. Primeiramente, o estudo da dinâmica da atividade microbiana ao longo do tempo de uma compostagem: “Mapeamos amostras de dias diferentes e isso nos permite agora estudar a variação desses processos ao longo do tempo”, diz Setubal, explicando que essa variação pode acontecer tanto em termos do conjunto de diferentes microorganismos que estão ali em dado momento tanto quanto da sua capacidade de metabolizar os componentes ao longo do tempo.

A outra diz respeito à inclusão de outros dois ambientes além das celas de compostagem no escopo pesquisa — o lago da área e as fezes dos macacos bugio. “Para cada um desses há um objetivo geral de descrever suas microbiotas”, declara Setubal, referindo-se ao conjunto das populações microbianas que habitam tais ambientes. Acrescenta, ainda, que o resultado é muito mais interessante quando se estabelecem comparações tanto entre os dias da compostagem entre si ou da disparidade microbiótica das celas e os outros ambientes.

O estudo teve início em 2012 e os primeiros dois anos foram principalmente de coleta de dados. “Um aspecto importante é que nós estamos descrevendo a microbiota não-cultivável”, declara Aline. Isso significa que para boa parte dos microorganismos que habitam a compostagem ainda não foram descritas condições de cultivo em laboratório — prática comum na ciência que facilita a observação da atividade biológica. “Sob esse aspecto, estamos descrevendo qual é a microbiota pela estratégia da metagenômica”, diz a professora. A técnica consiste em extrair o DNA de todo o conjunto de organismos presente em um habitat e sequenciar seus diferentes genomas. De acordo com Setubal, a principal diferença entre estudar um organismo isolado e a metagenômica é que, no primeiro caso, a extração do DNA também acontece de forma isolada, garantindo a legitimidade de sua origem. Já no segundo caso, a extração é coletiva e os materiais genéticos estão, portanto, misturados. “Após o sequenciamento do DNA metagenômico, há um trabalho de bioinformática para identificar, separar e determinar de que organismos são os diferentes DNAs”, complementa Aline.

Quanto ao futuro da pesquisa, Setubal comenta: “Existe a esperança de que a gente descubra alguma coisa que tem importância biotecnológica”. E ilustra: “Por exemplo, um microorganismo não descrito até então que tenha capacidade de degradar algum desses compostos orgânicos que poderia ser útil para a indústria.”

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