Além de alcançar seu objetivo de demonstrar a variação dos peptídeos celulares durante as várias fases do ciclo celular, a pesquisadora Christiane Bezerra de Araújo conseguiu caracterizar através de sua pesquisa um peptídeo específico que induz a morte celular em vários modelos, in vitro e in vivo, e principalmente, em diferentes tipos de células tumorais.
Através do conhecimento gerado pelos resultados da pesquisa da área de Biologia Celular e Tecidual da bióloga Christiane Bezerra de Araújo, hoje é possível se entender um pouco melhor o papel dos peptídeos intracelulares em processos vitais, como o ciclo e a morte celular. Os peptídeos intracelulares são produtos naturalmente gerados a partir da fragmentação de proteínas dentro das células e muitos são provavelmente funcionais. Após serem clivados, esses fragmentos podem ser apresentados como antígenos, podem ser degradados em aminoácidos (sua unidade funcional) ou podem permanecer no meio intracelular, participando de regulação da eventos relacionados à sinalização celular.
O objetivo do projeto de Christiane, desenvolvido no Laboratório de Comunicação Celular e orientado pelo professor Emer Suavinho Ferro, era investigar o perfil desses peptídeos em diferentes fases do ciclo celular para compreender a participação de alguns deles na regulação da divisão celular além de determinar a composição peptídica de tipo de células imortais utilizadas em pesquisas, mais conhecidas como células HeLa, em diferentes estágios do ciclo celular. O laboratório onde a tese foi desenvolvida é interessado em entender o papel dos peptídeos intracelulares. Esse foi um dos motivos para Christiane se interessar pela pesquisa. “Sem falar que era um assunto totalmente novo, sem precedentes na literatura”, completa a bióloga. Além de ser algo novo, a partir dessa pesquisa podem-se derivar outros estudos que descubram novas moléculas biologicamente e farmacologicamente ativas, tornando-se mais um ganho para a ciência.
A metodologia do estudo exigiu tempo, principalmente durante a análise dos dados de identificação, através de marcação isotópica e da técnica de espectrometria de massas semi-quantitativa. A espectrometria de massas é um método para identificar as diferentes moléculas que compõem uma substâncias. Durante o desenvolvimento do trabalho, foram identificados cerca de 18 peptídeos naturais que aumentavam ou diminuíam ao longo de cada fase. Um deles apresentou um aumento específico durante a fase S do ciclo celular, por isso foi escolhido para análises funcionais posteriores.
O peptídeo escolhido é o “pep5”. Na realização das análises posteriores, ele foi sintetizado na forma natural e acoplado a um outro peptídeo penetrador de células, tornando-se o “pep5-cpp”, pra permitir sua internalização em células e tecidos. In vitro e em forma natural, o pep5 não apresentou qualquer efeito biológico. Porém, quando acoplado ao cpp, demonstrou a capacidade de aumentar a porcentagem de morte em célular HeLa e também em outras linhagens tumorais, como por exemplo de melanoma, câncer de mama, tumor de tireóide, além de glioma de rato. In vivo, o pep5-cpp reduziu aproximadamente pela metade o volume de um tipo de tumor cerebral em ratos Wistar. A morte celular induzida pelo pep5-cpp foi caracterizada ocorrendo por necrose ou apoptose. Para diminuir a indução da morte celular pelo pep5-cpp, inibidores seletivos surtem efeito.