Os prejuízos trazidos pela progressão de cáries tem apresentado números cada vez menores e isso está ligado, principalmente, ao fácil acesso às informações de prevenção e tratamento. O quadro não é o mesmo para as lesões não cariosas, como a erosão e a abrasão. Decorrentes, respectivamente, da ingestão de ácidos e da escovação errada em conjunto ao uso de pastas dentais abrasivas, estes problemas têm se tornado cada vez mais comuns.
Ainda não há, no entanto, meios para a recuperação do esmalte ou da dentina perdidos com erosões e abrasões. O tratamento, atualmente, é baseado, principalmente, na mudança de hábitos do paciente. Assim, ele deve ingerir ácidos em menor frequência, ou usar alternativas para diminuir o contato destas substâncias com os dentes, o uso de canudos é um exemplo.
Samira Helena João de Souza, aluna de doutorado da Faculdade de Odontologia (FO) da USP realizou um estudo para analisar os efeitos da progressão de lesões de erosão com a aplicação de laser e flúor. Foram dois trabalhos: no primeiro, foram utilizados três protocolos do laser aplicados individualmente e depois com associação a flúor. No segundo, foram utilizados dois protocolos, desta vez com densidades de energia de laser mais baixas, mas aplicados da mesma forma. Nos dois havia também a presença de um grupo controle e o material analisado era um pedaço de dente com dentina exposta, a partir de uma lesão provocada por ácido cítrico.
O método de funcionamento do laser utilizado nesse trabalho é baseado em um processo inicial em que a superfície dentinária é “derretida” devido ao aumento de temperatura que ele gera. Logo em seguida, ela volta a se solidificar e, assim, se torna mais resistente a ácidos. Este procedimento é adotado em dentes íntegros de pacientes que sofrem com hipersensibilidade e, nesses casos, apresenta ótimos resultados. No estudo, segunda camada da estrutura dental, a dentina, já estava exposta e erodida, e as consequências exigem atenção.
Samira averiguou que os protocolos com densidades de energia mais altas, em um dente erodido são prejudiciais, uma vez que resultam em perda de estrutura, o que vai exatamente contra o desejado. Ao adotar irradiações mais baixas, conseguiu evitar novos danos físicos ao tecido do dente, mas não um combate às lesões tão eficientes quanto a aplicação isolada de flúor, procedimento que já é realizado atualmente.
A pesquisadora busca, no doutorado, continuar no mesmo campo de estudo. Está separando novos protocolos e ampliando não só os tecidos analisados como também as doenças associadas. Até o momento, tem trabalhado com o esmalte do dente e com a hipersensibilidade dentinária. O maior fruto de sua pesquisa de mestrado foi alertar o risco da irradiação padrão para dentes íntegros em estruturas já erodidas. “O mais importante é que as pessoas saibam que isso existe e saibam também como evitar”, afirma. Segundo ela, ainda há muito a ser analisado até que se adote um tratamento realmente efetivo para as erosões. O essencial, em sua opinião, é difundir essas informações para diminuir o número de casos e a progressão das lesões.