ISSN 2359-5191

24/02/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 10 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Atividade de manicure não é reconhecida socialmente
Trabalho de manicure: submissão e riscos à saúde. Foto: divulgação.

As relações de trabalho e convivência que envolvem a atividade de manicure são assuntos tratados na pesquisa da socióloga Juliana Andrade Oliveira, do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. A tese Fazendo a vida fazendo unhas: uma análise sociológica do trabalho de manicure destaca o contato das manicures com as clientes e com as colegas de profissão. A partir de entrevistas com manicures e profissionais de beleza, a pesquisadora conclui que a atividade envolve relações complexas de subserviência e competição, além de riscos à saúde e má remuneração.

Segundo Juliana, o trabalho de manicure é geralmente realizado por mulheres, com baixo grau de escolaridade, pertencentes às classes C, D e E, e que não tiveram outras oportunidades profissionais. Não existem exigências legais para exercer a profissão, a maioria das manicures recebe comissões e trabalha aproximadamente 12 horas por dia. A socióloga afirma que o trabalho autônomo gera disputa entre as manicures, que precisam se destacar no ambiente competitivo de atuação.

Além disso, as manicures enfrentam uma relação de servilidade com suas clientes que ultrapassa o trabalho com as unhas e abrange seu comportamento geral. Juliana diz que “uma manicure precisa estar sempre atenta ao tipo de comportamento desejado e tolerado pela cliente”. É comum que as profissionais escondam emoções ou demonstrem algo que não sentem. Na maioria dos casos, clientes e manicures possuem relação harmoniosa, pois quando há conflito a relação é rompida. Mas nos casos em que a cliente faz questão de impor suas identidades sociais de superioridade, que podem ser de raça ou classe social, “desenha-se uma cena de servilidade na qual a manicure tem pouca escapatória se não quiser perder a cliente”.

As relações conturbadas de trabalho entre clientes e colegas de trabalho são agravadas pelos grandes riscos a que manicures são expostas. O contato frequente com esmaltes e acetonas pode causar dermatites e alergias na pele; lixas e alicates podem transmitir micoses e frieiras, além de doenças infecciosas como hepatites A, B e C e aids. A pesquisadora destaca, também, queixas constantes de problemas de postura e visão, além da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), realizada em 2008 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que aponta que os casos de depressão é quase duas vezes maior em profissionais de beleza que na população em geral.

A maioria das manicures não vê a ocupação como algo promissor nem permanente. Juliana destaca em sua tese uma manicure de 19 anos que afirma que não quer “ganhar pouco pelo resto da vida, estragar a vista ou a coluna”. Segundo a pesquisadora, as manicures dificilmente são reconhecidas pela qualidade artística ou técnica de seu trabalho nem são vistas como exemplo de classe trabalhadora feminina. Entretanto, Juliana não deixa de destacar que "embora a organização deste trabalho apresente diversos problemas às manicures, muitas escolhem permanecer na profissão porque gostam do que fazem e recebem recompensas afetivas de suas clientes, que podem permanecer fieis por anos".

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