ISSN 2359-5191

24/02/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 10 - Economia e Política - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
Modelo de agronegócio brasileiro induz empresas à não contratação de serviços especializados
Ainda que sejam caras e exijam manutenção, os agricultores ainda preferem ter as colheitadeiras a contratar o serviço.

O Brasil possui um padrão de agronegócio cujas características induzem os produtores à integração vertical, ou seja, à não contratação, mesmo que parcial, de serviços especializados em mecanização agrícola. Apesar de necessária, essa escolha não é a mais eficaz em termos de retorno sobre o investimento. Foi o que observou Ana Luiza Camargo Mascarin em pesquisa desenvolvida na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA).

Enquanto em países como os EUA, Argentina e Holanda a prática de contratação de serviços é muito comum, no Brasil esse tipo de mercado é incipiente, de modo que os agricultores costumam optar pela propriedade da frota de equipamentos. A partir disso, a pesquisadora procurou entender o mercado de serviços agrícolas dentro dos propósitos e limites da empresa. Para isso, ela comparou os custos operacionais envolvidos na colheita mecanizada realizada com equipamentos próprios ou subcontratada de terceiros e analisou como estas circunstâncias interferem na escolha dos produtores e, consequentemente, na preferência pela posse de máquinas.

Um dos fatores mais contundentes no que diz respeito à escolha entre contratar serviços mecanizados e possuir os equipamentos se refere ao quanto cada alternativa imobiliza de capital e como isso é refletido no retorno sobre os investimentos. “Sob a ótica financeira, a estratégia de coordenar as transações via mercado ou contratos diminui a imobilização de capital em ativos, aumentando, portanto, o retorno sobre os investimentos. Na agricultura, o índice de retorno do capital é baixo em comparação com as empresas em geral, uma vez que o valor de investimento imobilizado no setor é alto, especialmente em terra e maquinário agrícola”, explica a pesquisadora.

Esse cenário configura a principal desvantagem da posse de máquinas. No caso da colheita mecanizada, o investimento exigido em equipamentos e na manutenção destes é muito alto — uma colheitadeira, por exemplo, custa entre R$683 mil a R$1,4 milhões. Outro problema é que muitas operações, como a própria colheita, são sazonais, realizadas apenas uma vez por safra, o que geraria ociosidade dos equipamentos. Além disso, a partir do momento que o agricultor possui as máquinas, ele precisa de mão de obra especializada que saiba lidar com a alta tecnologia deste maquinário, gerando custos mais elevados. Estes fatores fazem com que a imoblização de capital seja muito alta, diminuindo o retorno.

Quando se cogita a contratação de serviços mecanizados, no entanto, suas vantagens são exatamente os problemas relacionados à propriedade da frota de equipamentos. A subcontratação de fatores de produção, como explica Ana Luiza, tem a seu favor menores custos de governança interna, menor preocupação com manutenção dos ativos, mão de obra e especialização de serviços, além da flexibilidade para incorporar novas tecnologias e manter o foco na atividade principal. Por outro lado, o produtor precisa lidar com fatores como a falta de controle direto sobre o ativo (o que prejudica a flexibilidade interna de mudança de planejamento), a falta de comprometimento do prestador com o negócio e, assim, com a necessidade de monitoramento do serviço, coordenação de contratos e possibilidade de oportunismo.

Segundo Ana Luiza, a opção pela contratação de serviços terceirizados seria muito mais confortável e lucrativa já que garante menor imobilização de capital e assim maior retorno sobre os investimentos. No entanto, o cenário agropecuário apresenta dois fatores que reduzem a possibilidade de escolha dos produtores. A colheita, por exemplo, deve ser realizada em um momento determinado para que o produtor não perca em produtividade e em qualidade do produto. “Logo, se houver atraso na operação, o resultado da safra será aquém do esperado, o que resultará em menor produção e em menor receita”, explica a pesquisadora. Além disso, o agronegócio brasileiro tem uma caraterística específica: a doublecrop (ou “colheita dupla”), de modo que o agricultor colhe duas safras em um mesmo ano agrícola. A janela de tempo entre a colheita e o plantio é, então, muito mais estreita, o que exige uma coordenação afinada entre as operações, sem poder haver atrasos.

Desta maneira, apesar de oferecer mais vantagens (tanto ao pequeno como ao grande produtor), a subcontratação de serviços não é a alternativa preferida entre os agricultores. Segundo a pesquisadora, 67,2% dos produtores é integrada verticalmente, ou seja,realizam eles próprios todos os serviços necessários. Como isso ocorre em função da necessidade de um controle maior sobre operações delicadas como a colheita, os produtores acabam ficando sem saída. Assim, diante deste cenário, Ana Luiza destaca: “Empresas que operam na prestação de serviços agrícolas devem se preocupar com a qualidade do serviço, respeitando o timing correto para que o produtor não tenha prejuízos com sua produção, tanto na qualidade, quando na produtividade”.

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