ISSN 2359-5191

26/05/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 40 - Saúde - Departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional
Pesquisadora propõe correção para tratamento de inflamação em tecido do pé
Inflamação ocorre no tecido do pé chamado fáscia plantar Foto: reprodução da Internet

A doutoranda da Faculdade de Medicina da USP, Ana Paula Ribeiro, descobriu que corredores que possuem inflamação na fáscia plantar distribuem a força sobre o pé de maneiras diferentes, dependendo da fase (aguda ou crônica) em que a inflamação se encontra. A descoberta possibilitou à pesquisadora sugerir possíveis mudanças na inserção da palmilha ortopédica, tratamento que é comumente utilizado para essa lesão, chamada fasciite plantar.  

Tal condição patológica causa dor na região posterior do pé, já que a fáscia plantar é um tecido que conecta o câlcaneo (osso que forma o calcanhar) aos dedos. Como o período de tratamento conservador para a melhora dessa condição é longo, — cerca de 6 a 18 meses — a pesquisadora decidiu dedicar o tema de sua pesquisa ao estudo dos fatores de risco que levam à essa inflamação, com objetivo de aprimorar seu mecanismo de melhora.

Entre os principais fatores de risco que levam à fasciite plantar estão: o arco do pé, o alinhamento do retropé e a sobrecarga mecânica. O arco do pé é a curva descrita ao longo do comprimento medial do pé. Tanto um arco elevado (apoia-se somente a parte anterior e posterior do pé, sem suporte no meio) quanto um rebaixado (apoia-se totalmente o pé no chão) podem levar à inflamação. Isso porque, no caso de um arco elevado, o movimento se inicia com a parte anterior e passa diretamente pra posterior, sem apoio do meio. No caso de um arco rebaixado, como o pé está todo apoiado no chão, o movimento de saída provoca um estiramento na fáscia. Nos dois casos há um tensionamento no tecido, o que pode levar à condição.

O alinhamento do retropé indica se o o calcâneo é desviado para o interior ou para o exterior do pé. Esse fator é diretamente relacionado com a maneira como uma pessoa pisa. Pessoas que tem o câlcaneo voltado para o interior tem uma pisada pronada, ou seja, quando toca o chão, o pé se apoia no seu lado mais interno e o dedão é quem impulsiona. Já um câlcaneo desviado para o exterior define uma pisada supinada: quando toca o chão, o pé se apoia no seu lado mais externo e é o mindinho quem dá o impulso.

Por último, a carga mecânica é a distribuição de força no pé que uma pessoa faz quando pisa.  Todos esses fatores podem levar à degeneração e inflamação da fáscia e, portanto, à fasciite plantar. Como é um processo inflamatório, mesmo depois que é tratado, ele pode voltar a ocorrer.

A pesquisa de Ana Paula Ribeiro buscou estudar a fasciite plantar em corredores na sua fase aguda (momento em que a inflamação está ocorrendo) e crônica (quando já houve reincidências, mas a fase inflamatória não está presente no momento). A escolha por estudar em atletas com essa patologia se deu ao fato de existirem poucas pesquisas que relacionem tal lesão a esse grupo de indivíduos. Além disso, essa condição é uma das que mais atinge corredores.

Segundo a pesquisadora, existem métodos que podem corrigir o arco e a pisada, atenuando os fatores de risco e, portanto, a fasciite plantar em si. Para correção do arco, existem as palmilhas. Já para correção da pisada e carga mecânica, podem ser utilizados calçados adequados. No entanto, ainda que a palmilha seja um estímulo mecânico passivo para tentar corrigir o arco plantar e melhor distribuir a sobrecarga de força nos pés, estudos afirmam que, a longo prazo, ela não impede a volta da inflamação e da dor. O que Ana Paula descobriu é justamente uma explicação para isso: segundo a pesquisadora,  nas diferentes fases (aguda ou crônica), a distribuição de sobrecarga plantar que o corredor faz é diferente. Numa fase aguda, quando o atleta está com dor na região do calcanhar, ele tende a jogar toda carga plantar para a parte anterior do pé. Já na fase crônica, quando a dor não está mais presente, ele começa a depositar a sobrecarga no calcanhar novamente, e, assim, a dor e inflamação voltam a ocorrer.

“O que eu estou conseguindo observar é que numa fase inicial de tratamento, talvez a palmilha tenha que ser feita muito mais para aliviar a sobrecarga na parte anterior do pé, do que no calcanhar (como acontece tradicionalmente) porque é onde o atleta não está mais depositando carga plantar (pressão)" explica Ana Paula.  "Em uma fase posterior, crônica, aí de fato a palmilha tem de ser inserida para o calcanhar, para que se volte a distribuir melhor a carga plantar. E isso era o que ninguém estava pensando até então” conclui.

Apesar do caráter inédito das descobertas da pesquisadora, ela ressalta que mais estudos são necessários e que as conclusões feitas até agora ainda são suposições. Desse modo, sua pesquisa será continuada com ensaios clínicos sobre os efeitos de tratamentos com palmilhas e calçados nos diferentes estágios da fasciite plantar.

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