ISSN 2359-5191

19/06/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 53 - Arte e Cultura - Instituto de Estudos Brasileiros
Diários do poeta Max Martins despertaram sua faceta de artista plástico
Em mesa-redonda, pesquisador analisou colagens e a influência delas na obra do paraense, filmes em que ele participou foram discutidos e um novo diário foi doado para acervo público
Max Martins em sua cabana, na Praia de Marahu, em Belém (PA). Crédito: acervo Cultura Pará.

Após 30 anos do lançamento de seu primeiro livro de poesias, Max Martins começou a escrever diários, aos 56 anos de idade. Nesses registros pessoais, sua faceta de artista plástico encontrou um amplo espaço para desabrochar. Seus diários, entre outros assuntos, motivaram o recente encontro de pessoas ligadas a sua vida e obra, numa mesa-redonda organizada pelo Instituto de Estudos Brasileiros (IEB/USP).


Os diários

O pesquisador Paulo Roberto Vieira estudou os diários de Max Martins em seu doutorado, realizado na USP. O poeta escreveu 48 diários entre 1982 e 1999, um período, para Paulo, de “plena maturidade pessoal de Max, com muitos amigos jovens que o rodeavam e o admiravam”.

Em sua apresentação, Paulo definiu os diários como “cadernos que fundem, por meio das colagens, a criação poética e plástica, apropriando imagens verbais e não-verbais, com referências à literatura e ao cotidiano do poeta”. É um espaço onde a palavra se associa a colagens. O pesquisador afirmou que a “arte plástica de Max nasceu desse envolvimento do poeta com o diário. São dezenas de colagens, desenhos e pinturas, mesclados à escrita. Para o poeta, o diário era a página amiga e cúmplice, e para o artista plástico, era seu ateliê”.

Um grande amigo do poeta, James Bogan, também esteve no evento. Ele havia recebido do próprio Max um de seus diários como presente. Esse caderno, então sob posse de James, não foi considerado no estudo de Paulo. Ao final da mesa-redonda, ele aceitou destinar o diário para o acervo público, em local a ser definido.

Durante o evento, o diário doado por James Bogan ficou disponível para consulta do público. Crédito: Guilherme Fernandes.

Paulo classificou e organizou os conteúdos dos diários disponíveis, identificando três temáticas centrais: a natureza, a amizade e o erotismo. Ele reforçou que o foco de seu trabalho foi analisar e interpretar as invenções plásticas dos diários do poeta, resultantes da confluência entre vida, poesia e imagem não-verbal.

O pesquisador desenvolveu sucintamente as temáticas dos diários. Para ele, a recorrência da natureza está ligada ao interesse do poeta pelo taoísmo, zen-budismo e pela poesia oriental. Max procurou estudar e incorporar esses temas à vida e à criação poética desde sua juventude. A presença da natureza também se relaciona ao próprio ambiente natural do poeta, a floresta Amazônica. O bioma é representado nos diários e em muitas poesias pela praia de Marahu, local em Belém onde o poeta ergueu uma cabana. Nela, Max “se refugiava, sentia a praia e gostava de caminhar na areia”, afirmou o pesquisador. Para ele, “Max foi um poeta na Amazônia, e não ‘da Amazônia’, pois ele nasceu, viveu e morreu na região”.

As relações de amizade firmadas ao longo da vida são outro tema comum nos diários. “Elas estimulam o acúmulo de registros que criam momentos melancólicos ou alegres, ligados a partidas, chegadas e saudades”, disse o pesquisador. Já o erotismo presente nos cadernos é entendido na pesquisa como confluência da poesia e das leituras de Max. Para Paulo, “o poeta quer cristalizar a ideia da carne e da sedução como beleza e motivos perenes da poesia e da existência”. Ele comentou que essas temáticas principais são o substrato da atividade plástica dos diários de Max, que “escolhia materiais externos para as composições plásticas com base nos temas da natureza, da amizade e do erotismo”.

O pesquisador chamou a atenção para o momento em que a produção do autor amparou-se no gênero diário, quando temas e imagens dos cadernos foram incorporados nas poesias. Assim, os diários se ligam aos projetos artísticos de Max, que publicou 11 livros de poesia entre 1952 e 2001, falecendo em 2009. Paulo afirmou que “as escolhas presentes nos cadernos, frutos da liberdade artística de Max, também refletem a construção e consolidação de sua identidade”. Abaixo, encontra-se um vídeo de Max Martins, conhecido por sua voz marcante, declamando seu poema “A Cabana”, do livro Para ter onde ir, de 1992.


Filmes

James Bogan, professor emérito da Universidade de Missouri (EUA), era muito próximo de Max. Em suas diversas passagens por Belém, James realizou filmagens com o poeta, que foram apresentadas na mesa-redonda. O material ganha importância porque existem poucos registros em vídeo de Max Martins, que era avesso a câmeras e entrevistas.   

Max participou da gravação do curta-metragem T-shirt Cantata e narrou e atuou no curta The Hammock Variations. Diógenes Leal, que auxiliou na direção de fotografia e na filmagem dos curtas, disse em sua apresentação que “os filmes são uma mistura de documentário e ficção, e só havia o assunto definido quando fomos realizá-los. Saímos filmando pelas ruas de Belém”.

Para Diógenes, Max era fotogênico. “Em qualquer ângulo e sob qualquer iluminação, a imagem dele era bonita”, disse ele. A voz de Max foi exaltada por James e por Diógenes, que afirmou que “a voz fechada e grave de Max, ao mesmo tempo pesada e grossa, era cativante”. O cinegrafista também falou de seu esforço para construir, por meio da fotografia, uma atmosfera poética para os curtas.

Os filmes estão disponíveis no site de James Bogan. A mediação do evento foi feita pela professora do IEB Telê Ancona Lopez, também orientadora da pesquisa de Paulo Roberto Vieira.

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