ISSN 2359-5191

30/06/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 60 - Educação - Escola de Educação Física e Esporte
Educação Física usa kung fu para reflexões da vida cotidiana
Disciplina optativa, que conta inclusive com a presença de idosos, faz abordagem incomum na universidade
Conceito de "feminilização" da guerra é usado em disciplina optativa - Crédito: Divulgação/EEFE

O professor Walter Roberto Correia, todas as quartas-feiras, oferece uma disciplina na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE), da USP, que se usa dos conhecimentos de um determinado estilo de kung fu - o Ving Tsun - com o objetivo de favorecer o desenvolvimento humano e a tomada de consciência por parte dos alunos sobre como utilizar uma experiência de combate, estendendo para a experiência da vida cotidiana. “Dentro dessa experiência corporal, que mobiliza conteúdos conscientes e inconscientes de maneira muito dinâmica, nós tentamos tirar o proveito estratégico de como trazer à tona os limites e as possibilidade das nossas emoções, sempre com vistas à vida cotidiana”, afirma o professor.

“Kung fu” é uma expressão chinesa que significa trabalho árduo, ou um trabalho mediado pela inteligência. Segundo o professor Walter, a partir dessa concepção, a expressão pode ser usada em diferentes instâncias da vida social, mas ela ficou mais atrelada ao campo das lutas, muito em razão do cinema. O kung fu, portanto, é um espectro muito amplo de sistemas de combate chineses e a disciplina “Arte marcial chinesa: cultura e movimento” traz à tona um deles: o Ving Tsun.

O Ving Tsun - que pode ser traduzido como chamar ou anunciar a primavera - é uma arte marcial chinesa criada por uma mulher de mesmo nome. À época, a China, ainda na fase de pré-unificação, vivia o denominado “período dos estados combatentes”, contexto de muitas tensões e conflitos acirrados pela hegemonia da região. Esse período ultrapassou 500 anos e uma demanda, naturalmente, começou a se desenvolver ali: a inteligência estratégica. “Isso quer dizer como tirar o melhor proveito de um estado de guerra com o menor prejuízo e custo em termos de energia e recursos, sobretudo a vida”, explica Correia. É a partir disso que surge o conceito de “feminilização da guerra”, com a fundação do Ving Tsun.

Segundo conta o professor, a jovem, no sul da China, teria sido desposada à força por um integrante de sua comunidade e, nesse momento de crise, se dirigiu ao monastério de Shaolin, submetendo-se às orientações de uma monja no Templo da Perpétua Primavera. De acordo com a história, essa monja construiu uma arte a partir da observação de um confronto entre uma serpente e uma ave e a ensinou para Ving Tsun, que entrou em confronto com um aldeão e venceu, ganhando notoriedade. Depois de ensiná-la a seu marido, ele transmitiu isso a outras gerações posteriormente. “O Ving Tsun pode ser entendido não como uma luta apenas, mas como um sistema de inteligência estratégica chinês, ou seja, a partir da experiência de combate corporal procura-se tirar proveito de uma situação de crise, com economia de recursos e energia”, afirma.

É a partir disso que o professor se inspira para essa disciplina. Ela começa com uma experiência de combate simbólico para chegar até reflexões cotidianas. O combate é simbólico, pois, segundo o professor, o propósito não é desenvolver habilidades de luta, mas sim oferecer uma introdução ao sistema Ving Tsun, dentro de alguns limites. “No nosso caso, as adaptações que nós fizemos - didáticas e neurológicas - foram com o objetivo de oferecer uma introdução e algumas experiências, apresentando a linguagem e os componentes dessa modalidade de forma a gerar algum significado pessoal, ou seja, fazer os alunos entenderem que a arte marcial pode ser uma ferramenta de desenvolvimento humano e não apenas um instrumento de luta ou de defesa pessoal”, explica.

Segundo o professor, quando você está em uma situação de combate, seu cérebro entende ser uma situação de risco e é necessário que se faça um trabalho mediado, orientado por um mestre, para que se faça a melhor comunicação “entre o consciente e o inconsciente, o instintivo e o racional”. O exercício feito, então, é esse: a experiência corporal de combate simbólico e, a partir disso, que tipo de relação ela tem com questões da vida cotidiana - a chamada “extensão para a conduta”.

Ligada à Universidade Aberta à Terceira Idade e aberta para toda a comunidade USP, a disciplina conta com um grupo muito eclético de alunos. Eles vêm da área de ciências humanas, exatas, da própria educação física, além, claro, dos idosos. “Sempre temos na nossa turma um idoso e eles têm participado ativamente da nossa disciplina, tanto nas discussões teóricas quanto nas experiências práticas”, afirma o professor. As aulas acontecem às quartas, das 9h40 às 11h.

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