ISSN 2359-5191

10/08/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 72 - Educação - Instituto de Psicologia
Avaliação psicológica escolar não deve partir de testes, diz estudo
Aluno precisa de espaço para se expressar e de acompanhamento durante educação formal
Devem ser direcionadas atividades criativas às crianças. Foto: reprodução

Guiada pela concepção de que qualquer criança pode aprender, a psicóloga Patrícia Vaz de Lessa investigou, durante um ano, o cotidiano de uma escola municipal no Paraná com o objetivo de introduzir uma proposta de avaliação psicológica no contexto educacional. Ela observou o que poderia ser feito de diferente no acompanhamento psicológico infantil, atualmente ainda muito pautado por testes e avaliações objetivas, sem a devida preocupação com a singularidade e as experiências sociais das crianças. Além disso, pensou em como poderia acompanhar crianças em seu processo de ensino-aprendizagem de modo que, mesmo apresentando dificuldades de alfabetização, pudessem se desenvolver. Ao final do trabalho, construíu uma proposta com orientações que podem aprimorar a atuação de psicólogos no âmbito escolar, sem um modelo fixo de avaliação psicológica a ser seguido.

Desenvolvido como tese de doutorado de Lessa no Instituto de Psicologia da USP,  o estudo questiona explicações individuais que culpabilizam os estudantes pelo fracasso escolar, assim como a aplicação de testes para medir a aptidão intelectual das crianças, que geram laudos capazes de aplicar rótulos às crianças ainda no início do processo de escolarização. A pesquisadora acredita que o psicólogo deve conversar e intervir, mediando e oferecendo abertura para a criança se expressar. Segundo ela, a avaliação das dificuldades escolares precisa necessariamente incluir elementos sociais, econômicos e culturais que constituem o cotidiano da sala de aula.

Durante o desenvolvimento do estudo, a pesquisadora acompanhou uma classe do 3º ano do ensino fundamental, que geralmente conta com crianças de 8 a 9 anos. Além de assistir às aulas e acompanhar a rotina de estudos, desde o início da pesquisa, Lessa encontrou e orientou pais e professores, e observou o histórico escolar e psicológico dos alunos. Percebeu haver uma grande confusão de teorias e métodos de ensino no projeto pedagógico da escola, não existindo uma linearidade didática. “As professoras, mesmo com experiência, apresentavam certa angústia e dúvidas sobre as formas de ensinar, não sabiam a melhor forma de agir em sala de aula”, afirma.

No segundo semestre, quando as crianças já estavam mais habituadas à presença da psicóloga, além de reuniões em grupo, ela realizou encontros individuais com as crianças com dificuldades escolares. Nesses encontros, psicóloga e aluno conversavam e participavam de atividades relacionadas à memória, atenção, concentração, percepção e sensação utilizando desenhos, classificação de cores e figuras, memorização de palavras, jogos, histórias. Também era aberta a discussão com a criança, que expunha seus interesses e sua visão sobre a escola.

A pesquisadora afirma que a atuação do psicólogo escolar é essencial para propiciar mudanças no processo de aprendizagem. Seu trabalho deve ser pautado por observações do contexto escolar; acompanhamento da sala de aula; conversas com as professores, pais, coordenador pedagógico e diretor; encontros com os estudantes individualmente e em grupo; participação de reuniões e conselho de classe; além de encontros com pais e familiares. Tais ações foram colocadas em prática durante a trajetória de pesquisa da psicóloga.

Para Lessa, uma proposta interventiva de avaliação piscológica precisa considerar a importância do contexto histórico e cultural que constituiu a dificuldade de escolarização expressada pela criança. O psicólogo deve auxiliar o aluno através da convivência, analisando seu histórico e suas particularidades: “Ele deve ir à escola, deve fazer parte de todo o processo de aprendizagem, procurando perceber o que a criança consegue fazer sozinha e em que ele pode ajudar. Independente de sua condição social, cultural ou biológica, qualquer criança pode aprender e o psicólogo deve mostrar isso a ela”. A pesquisadora defende que o profissional de psicologia acredite na potencialidade dessas crianças, sob a ótica de desenvolvimento e de formação de seres humanos, visando superar um olhar medicalizante dos processos educacionais. 

Continue lendo sobre o tema na matéria Psicologia escolar na formação dos docentes contribui para entender escolarização, publicada pela AUN em maio de 2015.

Leia também...
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br