ISSN 2359-5191

14/08/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 75 - Saúde - Faculdade de Odontologia
Faculdade de Odontologia consegue reconstituir polpa dentária de ratos com células-tronco
Próximos passos da pesquisa incluem ampliação de testes e projeto em humanos
Ratos tiveram polpa reconstituida em 28 dias

Uma pesquisa desenvolvida na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP) conseguiu reconstituir por completo a polpa dentária de um rato através de experimentos com células-tronco. A descoberta consiste em um avanço fundamental nas pesquisas sobre reconstituição dessa estrutura em seres humanos. “Isso, se comprovado com pacientes, pode mudar todo o panorama da Odontologia”, destaca a professora e orientadora da pesquisa, Márcia Marques.

Um dos tecidos mais importantes para os dentes, a polpa é a estrutura responsável pela sensibilidade destes, acomodando em si nervos, vasos e artérias. É graças a ela que é possível sentir as dores de uma cárie e perceber quando um alimento está muito quente ou muito frio, por exemplo. Quando um dente é quebrado, sofre um trauma forte ou tem uma cárie profunda, a polpa fica infeccionada e é necessária sua remoção. Para isso, os cirurgiões-dentistas realizam o tratamento do canal nos pacientes, procedimento odontológico que retira a polpa dentária e veda os canais abertos.

A perda dessa estrutura, no entanto, gera a ausência de sensibilidade do dente e consequentemente o fim de sua vitalidade. “O ideal seria que, uma vez perdido esse tecido, a gente pudesse regenerá-lo”, explica Márcia Marques. Por isso, logo que se descobriu a presença de células-tronco nos dentes, dentistas do mundo inteiro se engajaram na busca por alternativas de regeneração do tecido. Stella Moreira, aluna de pós-doutorado da FO, foi então um dos nomes a se dedicar ao ramo.

Imagem do procedimento em um dos animais

Imagem do procedimento em um dos animais

Continuando uma pesquisa iniciada em laboratório, Stella analisou no seu pós-doutorado a ação das células-tronco na regeneração da polpa em ratos, animais com a arcada compatível com a do ser humano. Passados 28 dias desde o início dos testes, um dos roedores já possuía um tecido totalmente regenerado, novo e completo.

Utilizando dez ratos com polpa comprometida, Stella realizou a limpeza dos canais nos roedores e provocou um sangramento em seus dentes, através do qual as células-tronco foram lançadas no espaço que deveria abrigar a nova polpa. Para mantê-las vivas por mais tempo, a pesquisadora aplicou laser enquanto durava o sangramento, permitindo que as células conseguissem iniciar sua divisão.

Em todos os casos que o laser foi utilizado junto ao procedimento houve formação de novos tecidos. Em contrapartida, naqueles onde o laser não foi utilizado, não foi observado o surgimento de nenhuma estrutura.

Estudo é preliminar

Stella e sua orientadora afirmam que o estudo ainda é preliminar, sendo necessários maiores investimentos em pesquisas até que se possa afirmar a viabilidade do procedimento com as células em humanos. Todavia, o avanço proporcionado pela descoberta é suficiente para que se possa apostar nessa tecnologia.

“Estudamos em cultura de células e vimos que funciona, estudamos nos ratos e também funcionou. Já temos algum subsídio para testar em pacientes”, explica a pesquisadora. Stella diz que, empiricamente, alguns profissionais já têm feito o procedimento em humanos e os resultados têm sido positivos. Com a pesquisa finalizada, no entanto, todos os cirurgiões-dentistas poderão receber instruções para aplicar o novo método e com isso possibilitar a permanência de um dente mais saudável nos pacientes. Sobre as expectativas de tempo para os testes em humanos, Stella diz que “todo mundo fala em futuro próximo”, referindo-se aos pesquisadores do meio.

Segundo a pesquisadora, o tratamento de canal é mais oneroso para o sistema público do que o uso das células-tronco. Isso porque, diferentemente de muitos métodos da medicina que se utilizam dessas células, para a regeneração da polpa são usadas as células presentes no próprio paciente, sem ser necessária o transplante de outros locais.


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