ISSN 2359-5191

19/08/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 78 - Saúde - Faculdade de Ciências Farmacêuticas
Hemoglobina de boi é alternativa à transfusão de sangue
Pesquisador da USP desenvolve partículas que podem, no futuro, servir de alternativa à prática médica
Bovinos são tratados com grande rigor sanitário Foto: Seapa/ Fotos Públicas (05/02/2015)

Um grupo de pesquisa da USP está propondo uma alternativa à transfusão de sangue que diminui os riscos e custos dessa prática médica. Em pesquisa recente, foi desenvolvido um composto sintético de gelatina com hemoglobina de boi que pode, no futuro, ser utilizado para suprir o sangue humano.

“A ideia era evitar todos os problemas associados à transfusão de sangue”, revela o autor do trabalho, Marcos Camargo Knirsch, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. Em uma transfusão, existe uma gama de possibilidades do que se pode dar errado: incompatibilidades ‒ com o tipo A, B e O, por exemplo ‒, reações imunes, transmissão de micro-organismos e vírus que causam doenças ‒ como o HIV ‒, entre outras.

Além disso, o custo dessa prática médica é muito alto: é preciso coletar o sangue de doadores, separá-lo, testá-lo diversas vezes e armazená-lo. Existe ainda o investimento nas campanhas de doação e a dependência em relação à boa vontade das pessoas, para que se consiga quantidade suficiente.

“[Queríamos] realizar um sistema capaz de transportar o oxigênio sem que se tenha todas essas dificuldades do sangue. Seria um sistema que você poderia armazenar por alguns anos, não precisaria fazer teste prévio, tanto para identificar compatibilidade quanto para agente patogênico”, explica Knirsch.

Bancos de sangue sofrem com falta de doações           Bancos de sangue sofrem com falta de doações  Foto: Cristino Martins/ Ag. Pará/ Fotos Públicas (07/04/2015)

Além de ser mais simples retirar hemoglobina dos bois em relação a esperar da boa vontade das pessoas para doar sangue, o sistema desenvolvido na pesquisa é mais seguro em relação à doação humana. "Os bovinos hoje são tratados, por motivos comerciais, para exportação de carne, com um rigor muito grande no controle sanitário. O número de zoonoses [doenças transmitidas ao homem por animais] que o bovino tem, é muito menor do que as doenças humanas que podem vir do sangue e que exigem que se gaste uma boa quantidade da amostra fazendo exames”, afirma o professor Bronislaw Polakiewicz, orientador do trabalho de Knirsch e coordenador do Laboratório de Síntese e Orgânica Aplicada, da FCF-USP.

O sistema desenvolvido também é passível de ser esterilizado, deixando a partícula final sem qualquer traço de contaminação. “É um sistema muito mais fácil de poder trabalhar do que com que o sangue”, afirma Knirsch.

Hemoglobina é polimerizada e encapsulada

O sistema alternativo à transfusão de sangue desenvolvido é quase inteiro sintético, com exceção da hemoglobina, que tem origem animal, proveniente do boi. Essa molécula de hemoglobina é extraída, retirando quaisquer outras características do sangue bovino, como os próprios tipos sanguíneos A, B e O.

“O sistema ABO, nós retiramos completamente. Destruímos a célula do sangue, quebramos ela inteira. Esse glóbulo vermelho, a gente desfaz e pega só a hemoglobina. E fazemos uma purificação para obter alta pureza. Nesse caso, o sistema ABO e todas as respostas imunes devidas à parede celular nós removemos”, revela o pesquisador.

A hemoglobina, após a extração, é transformada em uma cadeia maior, num polímero contendo diversas proteínas interligadas. Isso dá ao sistema o tamanho ideal para circular no organismo humano. "Foi feita a polimerização da hemoglobina para impedir que ela saia do vaso e impedir também que ela passe pelo rim e seja tóxica a ele", explica Knirsch. Posteriormente, a estrutura é fechada pelo pesquisador em uma cápsula de gelatina produzida à partir da pele dos próprios bovinos.

Sistema ainda está longe de chegar aos hospitais

A partícula de gelatina com hemoglobina de boi teve seu tamanho, carga elétrica superficial e afinidade com oxigênio testados. Já se pode afirmar que ela tem o tamanho ideal para ser transportada pelo vaso sanguíneo e que sua carga tende à repulsão da parede celular dos vasos, o que diminui a interação com o sistema imune e a chance de reações imunológicas.

"A tecnologia para extrair a hemoglobina, polimerizá-la e fazer a partícula nós temos”, revela Knirsch. No entanto, ainda faltam alguns testes para que os experimentos em animais possam começar.

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