ISSN 2359-5191

14/09/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 88 - Meio Ambiente - Instituto de Biociências
Estudo revela riscos potenciais para a fauna do reservatório de Guarapiranga
Pesquisadores estão levantando e analisando dados que qualificam a ação antrópica sobre equílibrio ecológico da represa
Mancha urbana se aproxima da represa de Guarapiranga

O pós-doutorado Julio César Lopez Doval, está trabalhando, juntamento com o professor do Instituto de Biociências da USP, Marcelo Luiz Martins Pompêo, num projeto, cujo objetivo é realizar testes tóxicologicos na represa de Guarapiranga para medir o impacto ambiental da ação antrópica sobre o reservatório.

A ideia do projeto é aplicar a experiência adquirida por Doval, em seu doutorado e pós-doutorado na Universidade de Barcelona em um um reservatório brasileiro. Doval decidiu trabalhar com Marcelo Pompêo e estudar o reservatório de Guaraparinga, que possui um amplo histórico de significativas pressões antrópicas. “Eu estava trabalhando no meu doutorado em 2011, nos conhecemos e eu me interessei pelo trabalho que fazia aqui na região metropolitana de São Paulo, especialmente Guarapiranga”, afirma o catalão ao explicar como conheceu Marcelo. “A massa d’água está muito perto da área urbana e portanto, suscetível de sofrer impactos toxicológicos”, continua.

Em Barcelona, Doval participou de dois projetos focados no conhecimento dos efeitos de poluentes emergentes e das mudanças climáticas nos ecossistemas aquáticos a partir dos objetivos da Diretiva Quadro da àgua da União Europeia.

Os objetivos fundamentais da pesquisa no Brasil são: conhecer quais compostos químicos estão presentes no reservatório,  estimar o seu risco potencial, e, saber se as comunidades de invertebrados estão sendo afetadas por esses poluentes. Até agora, graças a uma parceria com a Unicamp e as doutoras Casiana Montagner e Gisela Umbuzeiro, que fizeram algumas análises químicas, Doval concluiu que nas águas do reservatório Guarapiranga estão presentes pesticidas, drogas de abuso, remédios e sustâncias desreguladoras endócrinas (drogas que alteram o funcionamento das glândolas).

Os estudos de avaliação de risco, por enquanto mostram que estas subtâncias não são um risco potencial para a fauna exceto o inseticida carbendazim e o plastificante bisphenol A, presentas na água do reservatório. No sedimento foram analisadas as concentrações de metais. A partir dessa estudo, os pesquisadores identificaram que no ponto perto da barragem as concentrações de Cobre (Cu) são tão altas que supõe um risco potencial para à fauna, já observado em outros estudos realizados pelo grupo.

Até agora o estudo trata apenas do risco potencial, pois é preciso esperar os resultados obtidos com a comunidade da fauna local para saber se está sendo realmente afetada ou não e, então, saber se esses compostos têm um efeito tóxico potencial ou não.

Paralelamente a este trabalho, Doval analisou os dados coletados pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) no seu programa de monitoramento de reservatórios para saber se os dados físicos e químicos coletados podem explicar as respostas observadas nos testes toxicológicos e nos índices de qualidade zooplanctônica. Na sua análise, não foi possível discernir que agentes estão causando essas respostas toxicológicas e seus efeitos na comunidade zooplanctônica.

O foco do trabalho de Doval é água bruta e sedimento, e não água tratada. Portanto, seu objetivo é coletar dados com a intenção de observar eventuais impactos causados ao ambiente na tentativa de propor formas de preservar o ecossistema dos reservatórios. Doval reitera que o cerne de seu trabalho não é saúde pública.

O catalão destaca que, por enquanto, para a avaliação de risco, está trabalhando com dados baseados em organismos que vivem em outras latitudes. Isso porque, não há dados suficientes sobre respostas em organismo da região tropical e sul americana que o permita avaliar os riscos reais sob os quais estão submetidos os seres vivos que habitam a região do reservatório. Doval afirma que faltam dados conclusivos acerca da sensibilidade/vulnerabilidade dos organismos da fauna e da flora sul-americana em relação à determinadas substâncias.

O maior desafio enfrentado pelos reservatórios que abastecem a região metropolitana de São Paulo, segundo os pesquisadores, é a ocupação das áreas de mananciais. Muitas das comunidades que se estabelecem nas regiões de entorno não possuem redes de ratamento de esgoto. Somado ao despejo de desejos na água está o desmatamento da mata siliar resultando em um enorme impacto ambiental.

“Pesquisadores do Departamento de Ecologia do IB foram os responsáveis por fundamentar o estudo da ecologia dos reservatórios no Brasil”, afirma o professor Pompêo. O Departamento já tem tradição no estudo da ecologia dos reservatórios da região Metropolitana de São Paulo e continua a realizar estudos na área.

No seu estudo de mestrado e doutorado, Pompêo estudou plantas aquáticas, mas ao entrar no Departamento decidiuexpandir sua área de atuação. Hoje, o professor trabalha, principalmente, com os reservatórios que abastecem a região metropolitana de São Paulo. Estuda as condições da massa de água, do sedimento, e as consequências da ação antrópica sobre as populações de organismo invertebrados (como fitoplânctons e zooplânctons), com o objetivo não só de desenvolver papers e formar pesquisadores, mas também de informar a população sobre as condições desses mananciais. Pompêo já criou três sites com o objetivo de subsidiar a população com informações qualificadas e divulgar as pesquisas que estão sendo desenvolvidas na área, ´rincipalmente pelo grupo que coordena.

“A pesquisa desenvolvida pelo catalão, portanto, possui grande aplicabilidade e se utilizada corretamente pode ajudar na preservação ambiental do reservatório”, afirma o professor do IB. Pompêo destaca que os levantamentos realizados por Doval podem e devem servir para que os gestores do reservatório de Guarapiranga elaborem ações de manejo, isto é, intervenções, que diminuam o risco potencial de desequilíbrio ecológico.

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