ISSN 2359-5191

01/10/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 90 - Arte e Cultura - Instituto de Estudos Brasileiros
Críticas musicais inéditas de Mário de Andrade defendiam música e arte moderna
Artigos do escritor sobre temporadas de ópera são estudados em pesquisa realizada no IEB
Foto: Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP

Mário de Andrade é considerado por muitos como a figura mais representativa do modernismo e da primeira metade do século 20. Um dos destaques na Semana de Arte Moderna de 22 e com obras de grande influência, como Macunaíma e Pauliceia Desvaiarada, sua contribuição ultrapassa o âmbito literário e se instala também na música.

Entre 1918 e 1919, Mário escreveu críticas musicais importantes sobre os concertos ocorridos na época para o jornal A Gazeta. Com o objetivo de interpretar esses escritos no contexto do período, Eduardo Tadafumi Sato desenvolveu o projeto de pesquisa A crítica musical de Mário de Andrade em 'A Gazeta' (que será apresentada no início de 2016), na realização do seu mestrado no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, com apoio financeiro da Fapesp. “Apesar de Mário de Andrade estar em alta atualmente, pouca gente sabe que a vida inteira ele trabalhou com música, dando aulas e escrevendo críticas musicais”, conta Eduardo. “Estudei cerca de 30 críticas, que pesquisei no arquivo do IEB e em outros arquivos.  O tema e o período são bem pouco conhecidos e abordados”.

Mário já havia se formado em piano e canto no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, quando começa, em 1918, a escrever para o jornal A Gazeta. Nesse ano, Cásper Líbero assumiu o comando do jornal, com uma proposta de modernização e inovação, e é nesse contexto que tem início os artigos de crítica do artista.

O assunto principal de seus artigos eram as temporadas de ópera que se apresentavam em São Paulo, e em menor quantidade os recitais de piano. Todas elas foram publicadas entre julho e outubro, período em que as companhias de ópera europeias viajavam para a América do Sul, já que no verão os teatros do continente fechavam.

Uma característica importante e muito presente nesses escritos é a preocupação do autor em tornar as obras acessíveis à população que lia o jornal. Naquela época havia muitas músicas e títulos novos sendo apresentados e eram poucas as pessoas que tinham acesso a discos. Além disso, as óperas eram cantadas em italiano. Por isso havia um trabalho do crítico em tornar os espetáculos compreensíveis: “Ele possuía esse lado didático de querer explicar o que era a música, contextualizar e tentar fazer com que o público entendesse. Como as óperas eram à noite e as críticas eram publicadas no jornal do dia seguinte, esses artigos eram escritos no calor do momento. Mário explicava as óperas em suas múltiplas dimensões: o enredo, a música e a performance dos artistas.”.

Outro tema que aparecia em seus artigos é a defesa da música moderna e da arte moderna como um todo, o que traz  aproximações com o projeto modernista que vai desenvolver poucos anos depois. “Uma coisa que sempre aparece é a defesa do artista. Mário vai defender os artistas que estão ali tocando, os músicos, cantores, regentes”, explica Eduardo. “Sua crítica busca entender o lugar ocupado pelos artistas na sociedade e, assim, ele não vai atacá-los de maneira direta”. O principal alvo das críticas do escritor eram as pessoas em torno da organização das artes, como os empresários de ópera.

Um exemplo de sua crítica à parte administrativa e à associação comercial musical foi em 1918, quando através de suas publicações, Mário contribuiu para a solução de um problema relacionado à epidemia de gripe espanhola. Na época, houve uma campanha bastante grande dos jornais para que se encerrasse a temporada lírica, por causa da doença e de seus riscos, mas essa ação vinha sendo adiada já que havia muitos interesses comerciais envolvidos na realização do evento. Mário participa da campanha através de suas críticas, e mesmo jovem, “teve um papel importante em capitanear a discussão para que a temporada acabasse no meio”.



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