ISSN 2359-5191

01/10/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 90 - Educação - Instituto de Psicologia
Discriminação na educação inclusiva tem origem dentro e fora da sala de aula
Medidas incorretas adotadas pela direção das escolas e influência dos pais estão entre as principais causas de preconceito, concluem pesquisadores do IPUSP
Sucesso da educação inclusiva depende de envolvimento entre professores, alunos e responsáveis. Foto: Moacyr Lopes Junior/Site Educar para Crescer

Apesar da existência de leis garantirem o acesso à escola de crianças especiais, é comum que o processo de integração destes alunos se dê de forma conturbada, e não raramente sejam denotados casos de discriminação e preconceito. Muitas destas situações acontecem por conta da adoção de medidas que ao invés de combater a exclusão acabam por promovê-la, ainda que inconscientemente. Estes foram aspectos constatados na pesquisa “Inclusão e Discriminação na Educação Escolar” realizada por um grupo de professores do Laboratório de Estudos sobre o Preconceito (LEP), do Instituto de Psicologia (IP) da USP.

O ambiente escolar, ao contrário do que está incorporado no imaginário coletivo, vai muito além de um espaço destinado apenas à instrução formal. A escola é o primeiro lugar fora do âmbito familiar no qual a criança passará por trocas de experiências que permeiam os mais diversos campos, inclusive o afetivo. De acordo com a Lei nº 12.796, que integra a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, todas as crianças brasileiras devem estar matriculadas na educação básica a partir dos quatro anos de idade. Esta mesma lei se estende à educação especial, ou seja, garante o acesso à escola de crianças consideradas em situação de inclusão - no caso, alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.

Principais ocorrências

Entre os comportamentos preconceituosos registrados, os mais recorrentes são a marginalização e a segregação. No primeiro caso, o aluno até faz parte do grupo, mas é colocado à margem - como se o convidassem para uma partida de futebol, porém, não lhe passassem a bola. No cenário seguinte, o aluno é, de fato, colocado à parte e os colegas o ignoram.

De acordo com o professor José Leon Crochik, coordenador do laboratório, pessoas com atitudes preconceituosas tendem a praticar tais ações com diferentes grupos de pessoas, o que demonstra que o preconceito está muito mais relacionado com a pessoa que o exerce do que com as pessoas por ele atingidas. Em geral, o preconceito acontece pois o indivíduo que o pratica não consegue se identificar com o outro - há uma refutação psicológica em aceitar que o outro lembra sua própria fragilidade e, por isso, tenta-se negar o que não pode aceitar em si.

No ambiente escolar, quando um aluno consegue superar uma fase difícil e há algum colega que o faz se lembrar de como era antes, ele passa a atacá-lo como maneira de se fortalecer. É uma autoafirmação de que ele não é mais como o outro.

Contudo, não são apenas os alunos os responsáveis pelo preconceito na escola, dado que medidas adotadas pelas direções das instituições também podem cooperar para que a discriminação se fortaleça. É o que acontece com a adesão de um segundo professor em sala, por exemplo. O acompanhamento de um profissional especializado, sobretudo em casos de alunos com deficiências, tende a ser encarado como algo positivo, porém, nem sempre esta impressão está correta. “É normal os alunos regulares pensarem que como a professora deles não é a mesma do colega em situação de inclusão eles são diferentes. E isso, mais uma vez, reforça preconceitos”, conta o professor Crochik.

Inclusão significa pensar em formas de todos os alunos trabalharem juntos, apesar de suas características próprias. Créditos: Site Educar para Crescer 

O ideal para resolver tal impasse seria a presença de um segundo professor, mas que ele não fosse de um ou outro aluno, e sim que pudesse atender a necessidade de todos. Ademais, é fundamental para a educação inclusiva que se acolha o aluno sabendo que, tal como os demais, ele possui necessidades específicas e, portanto, é necessário que se pense em formas de transmitir o conteúdo de modo que ele possa aprender.

O professor Crochik aponta que para combater a discriminação é preciso ir além dos muros da escola e avaliar a participação dos pais e responsáveis no processo de inclusão, dado que a forma como eles agem é uma referência importante para as crianças. “Muitas posturas adotadas são reproduções de comportamentos presenciados com frequência em casa. Logo, se o pai acha que a escola perderá qualidade no ensino porque aceitou uma criança deficiente, isso passará para seu filho de alguma maneira”.

Quando a inclusão é bem sucedida

Segundo o professor Crochik, a inclusão acontece quando os alunos especiais são tratados da mesma forma que os demais, isto é, não são nem protegidos e nem negligenciados, são tanto corrigidos como elogiados. E afirma que nestes casos todos têm a ganhar: “a educação inclusiva colabora para que aconteça a identificação entre os indivíduos e se diminuam atitudes discriminatórias. É uma quebra de estereótipos e dados imaginários”.

Em um processo de integração é preciso que haja um envolvimento de toda a equipe em torno do ato de ensinar, sabendo que, para isso, é necessário que os conteúdos sejam adaptados e nunca variados. Adaptar significa aproximar o processo do outro - se um aluno tem dificuldades em realizar divisões matemáticas com dois números na chave, então que se ensine com um, pois a lógica é a mesma e ele terá base sobre aquilo. Por outro lado, variar significa afastar - uma analogia seria dar para toda classe uma lista de exercícios matemáticos e para o aluno em situação de inclusão um desenho para colorir.

Para o pesquisador, é necessário que se entenda que a educação inclusiva não deve ser vista como uma medida definitiva. Ela deve ser transitória e aplicada durante o período em que todos estão sendo inseridos na educação regular. Quando a integração dos alunos especiais estiver concluída, medidas como aulas extras e exercícios de reforço podem ser administradas para complementar as aulas contínuas e auxiliar os alunos com dificuldades, inclusive os alunos regulares.

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