ISSN 2359-5191

02/10/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 91 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Biociências
Pássaros com diferente estratégia reprodutiva têm maior sucesso biológico
Com estratégia reprodutiva peculiar, pássaros demonstram que a diversidade favorece sucesso reprodutivo
Foto: Pássaro Dunnock Crédito: Janusz Lagisz

O professor do Departamento de Zoologia da USP Eduardo S.A. Santos publicou nesta semana, no Journal of Animal Ecology, um dos artigos de seu doutorado realizado na Universidade de Otago, sobre o comportamento reprodutivo da espécie Prunella modularis, um pássaro nativo da Europa que foi introduzido na Nova Zelândia no século XIX.

A espécie, que é comumente chamada de dunnock, chama a atenção de pesquisadores britânicos há mais de 30 anos. Mas foi com o trabalho de Eduardo que o comportamento desses pássaros se tornou melhor compreendido.

Durante três anos o pesquisador observou os dunnocks em seu período de acasalamento. “A reprodução dos pássaros ocorre entre setembro e fevereiro. Durante esse período foi possível observar o comportamento dos pássaros como o intuito de entender as potenciais causas de seu sucesso reprodutivo”, comenta. Além da observação comportamental, o pesquisador recolheu periodicamente amostras de sangue dos pássaros e de seus filhotes para realizar análises moleculares de paternidade e parentesco.

Para ele, o que é mais peculiar nesta espécie é que existem casais que praticam a monogamia, mas também há grupos poliândricos (uma fêmea e dois machos) e poligínicos (duas fêmeas e um macho). Os pássaros monogâmicos representam aproximadamente 45% da população. O restante é composto por grupos poliândricos e poligínicos.

A finalização desse estudo comprovou que os grupos socialmente poliândricos podem obter maior sucesso reprodutivo do que os casais monogâmicos. Isso porque em grupos poliândricos, todos os pássaros machos fornecem alimentos para os filhotes, mesmo não sabendo quais são seus ou de outro macho. Ou seja, todos os filhotes são alimentados. Já nos grupos monogâmicos, o pássaro macho não consegue alimentar todos os filhotes, trazendo menos alimentos do que seria adequado para a ninhada. Dessa maneira, os grupos poliândricos geralmente produzem mais filhotes por tentativa reprodutiva do que os monogâmicos.

Outra curiosa característica dos grupos poliândricos é que cerca de 30% dos machos são aparentados. De acordo com Eduardo, a reprodução de uma única fêmea com machos aparentados também garante maior sucesso na perpetuação dos genes dessas famílias. “Isso ocorre, em alguns casos, porque irmãos compartilham 50% dos genes. Se um macho conseguir se reproduzir e o outro não, os dois ainda terão parte de seus genes perpetuados. E esse que não conseguir se reproduzir diretamente terá sucesso reprodutivo através de seus sobrinhos”, aponta o pesquisador.

Esse sucesso já não pode ser visto em casais monogâmicos. De acordo com o estudo, o acasalamento entre a fêmea e o macho de uma mesma família tem maior chance de produzir efeitos deletérios. Esses, são efeitos negativos, como uma incompatibilidade genética que impede o desenvolvimento dos filhotes, ou a maior chance de aparição de doenças genéticas, que diminuem o sucesso reprodutivo. “Quando uma fêmea está pareada com macho da mesma família, eles compartilham muito genes. E, portanto, a chance de uma doença recessiva se expressar no filhote aumenta. Ou seja, quanto mais aparentado for o casal, menor a chance de seus filhotes ele sequer sairem do ninho”, explica o professor.

Com a pesquisa, é possível concluir que a variação no comportamento reprodutivo dentro de uma população pode gerar vantagens para a espécie. Por exemplo, o pesquisador aponta que o comportamento de fêmeas em grupos poliândricos e em casais monogâmicos são diferentes, pois sendo dominante conseguem manter grupos com dois ou três machos ao mesmo tempo, garantindo a reprodução com diversos machos. Já uma fêmea menos dominante não consegue ter acesso a tantos machos ao mesmo tempo e limita seu processo reprodutivo.

E do ponto de vista dos pássaros machos, a poliandria também pode ser vantajosa. Machos de fora do grupo pela conquista da fêmea, os machos poupam suas energias, e garantem que terão alguma paternidade.

Eduardo diz que não sabe quais são os fatores que influenciam se essa a escolha das diferentes estratégias de reprodução feitas pelos dunnocks e conclui: “Essa é uma pergunta difícil. Sabemos que outras espécies em outras partes do mundo também são poliândricos. As lêmures de Madagascar, e alguns morcegos são exemplos disso”. Por enquanto só se pode afirmar que esse comportamento gera benefícios para o sucesso reprodutivo das espécies. 

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