ISSN 2359-5191

10/11/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 107 - Meio Ambiente - Escola de Artes, Ciências e Humanidades
Aumento de temperatura no território brasileiro vem da circulação oceânica
Navio utilizado pela equipe para coleta de testemunhos oceânicos

Em pesquisa que conta com colaboradores de diversos países foi diagnosticado que uma das causas do marcante aumento de temperatura que ocorreu entre 18 e 15 mil anos atrás nas chamadas terras baixas da América do Sul (as porções tropicais e sub-tropicais a leste da Cordilheira dos Andes) está associada à redução na intensidade do transporte de energia pela Circulação Meridional do Atlântico (AMOC, da sigla em inglês Atlantic Meridional Overturning Circulation).

A descoberta é resultado de um projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) que teve início em 2013 e tem previsão de término em 2017, e investiga como os efeitos das mudanças na AMOC afetam o clima na América do Sul.

Cristiano M. Chiessi, professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, é parte da equipe que coleta e analisa os dados para a pesquisa, e explica que é necessário remontar o padrão climático do planeta e suas variações naturais, que podem apresentar ciclos dos mais variados, como inter-anuais, decadais, multi-decadais ou de duração mais longa. Dessa maneira, a equipe reúne informações geológicas que auxiliam na reconstrução do clima do planeta para definir a variabilidade natural do clima e assim determinar quais alterações são naturais e quais são consequências da ação do homem, que podem se cancelar ou somar.

A reconstrução do clima é feita por uma parte da equipe que coleta o que denominam “testemunhos oceânicos”: amostras nas camadas de sedimentos oceânicos, diretamente nas profundidades correspondentes aos períodos que se deseja obter informações do clima do passado. Uma das ferramentas utilizadas nessa definição é um micro-organismo que quando vivo é encontrado nos primeiros 30 metros de profundidade no mar, que em suas pequenas conchas registram as condições ambientais passadas, o Globigerinoides ruber. Os pesquisadores coletam microfósseis dessa espécie sedimentos do fundo marinho e utilizam o método do carbono 14 para datá-los.  

A AMOC transporta uma quantidade enorme de energia, de aproximadamente 1,3 PW, e em um período de 18 a 15 mil anos atrás a intensidade dessa circulação diminuiu consideravelmente. Foi então detectado que devido às emissões de gases de efeito estufa na atmosfera, essa redução de intensidade foi potencializada. Por meio de modelos matemáticos outros colegas realizaram projeções futuras que mostram que até o final do século a AMOC provavelmente sofrerá enfraquecimento de 30%, a depender do cenário futuro de emissões dos gases de efeito estufa. Para se ter uma ideia de quanta energia isso significa, um PW (Peta Watt) corresponde a 1 acompanhado de 15 zeros, enquanto 1 KW corresponde a 1 acompanhado de 3 zeros.

A porção de energia que deixa de ser transportada pela AMOC para o extremo norte do planeta acaba armazenada na Corrente do Brasil de forma muito intensa, o que causa muitas consequências, como a desestabilização de ecossistemas marinhos.

Chiessi aponta que manter a intensidade do transporte de energia pela AMOC que ocorre atualmente é praticamente impossível, mas que o conhecimento preciso do cenário futuro é fundamental para que possamos nos adaptar às sérias consequências que estão por vir. 

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