ISSN 2359-5191

25/11/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 116 - Sociedade - Instituto de Psicologia
Migração aproxima estudos sobre psicólogos brasileiros e russos
Desenvolvida no IPUSP, pesquisa avalia atuação de psicólogos que trabalham nos centros de atendimento aos imigrantes em São Paulo e Moscou
Pesquisa avalia como psicólogos atuam na recepção de imigrantes. Foto: site BBC

A arriscada travessia de imigrantes do Oriente Médio pelo mar Mediterrâneo está, nos últimos meses, entre os assuntos mais discutidos pela mídia e autoridades do mundo inteiro. Os milhares de acidentes que acontecem durante o percurso trouxeram à tona debates sobre uma importante questão: a migração. O tema é base da pesquisa "Atuação do psicólogo em serviço de migração: um estudo em São Paulo (Brasil) e Moscou (Rússia)", realizada por Alina Kaledina Ortega, mestranda do Instituto de Psicologia (IP) da USP.

Em seu estudo, a pesquisadora analisou a atuação dos psicólogos que trabalham nos centros de atendimento aos imigrantes em São Paulo e em Moscou, na Rússia. Segundo Kaledina, há uma série de pesquisas dentro da psicologia que se propõem a investigar a adaptação dessa população ao seu novo ambiente, no entanto, há poucos estudos sobre o trabalho de especialistas que atuam nesta área. Por essa razão, ela avaliou pontos como conhecimentos aplicados pelos psicólogos em seus trabalhos, disciplinas estudadas durante a graduação com relação direta ao assunto e estrutura dos centros que recebem os imigrantes.

Saída e chegada: como se adaptar a um novo país

Na maioria dos casos de migração, as pessoas fogem de guerras, repressão política e religiosa e da pobreza que afligi seus países. A chegada a outras nações costuma ser um processo complexo, pois envolve uma série de fatores como adaptação e reestruturação de toda uma vida. Além disso, os imigrantes precisam contar com a ajuda de especialistas que possam orientá-los nessa nova etapa. Contudo, Kaledina diz que são raras as ocasiões em que os imigrantes procuram atendimento psicológico. Ela explica que isso acontece porque há outras necessidades encaradas como prioridades, por exemplo, a emissão de documentos e conseguir um novo emprego.

Em São Paulo, o centro visitado pela pesquisadora se chama Missão Paz, fica localizado no bairro da Liberdade e é mantido pela igreja católica. Lá os imigrantes podem receber atendimento psicológico que acontece em grupo, diferente da forma clássica empregada pela psicanálise - consultas individuais e reservadas. O objetivo da Missão Paz é ajudar os imigrantes na etapa inicial de sua nova vida, oferecendo comida, moradia e atividades culturais, até que eles regularizem sua situação e possam conseguir um trabalho.

Já o centro visitado na Rússia é voltado a questões de cunho jurídico, principalmente aquelas relacionadas à defesa dos direitos humanos. No local, o tratamento com psicólogos é oferecido apenas para crianças, o que Kaledina considera um problema, uma vez que muitos casos só podem ser resolvidos se trabalhados com toda a família. Uma característica análoga nos centros dos dois países é o fato da manutenção ocorrer por vias não formais, frequentemente doações ou ajuda de ONGs.  

Kaledina conta que a formação dos psicólogos no Brasil e na Rússia possui diversos pontos em comum, porém, aqui, o foco dominante nos estudos é a psicanálise, enquanto que na Rússia a abordagem é, predominantemente, comportamental. A pesquisa também averiguou se as universidades nos dois países possuem disciplinas voltadas à migração e aspectos interculturais e étnico raciais, constatando que na Rússia há matérias obrigatórias com tais temáticas, mas, no Brasil, apenas disciplinas optativas. A psicóloga afirma ter se surpreendido com a escassez de pesquisas nacionais atreladas à migração, dado que o país é conhecido pela miscigenação.

Os psicólogos entrevistados por Kaledina falaram que após algum tempo prestando serviços para imigrantes tornaram-se mais sensíveis a questões que antes não se prendiam tanto, porém, acreditam que a discussão durante a formação do profissional é essencial para evitar atitudes xenófobas e preconceituosas. De acordo com a pesquisadora, culturas diferentes não impedem que o atendimentos aconteça, mas códigos culturais, quando não são bem compreendidos, podem complicá-lo. Um exemplo citado por ela é a dificuldade linguística, que em muitos casos é erroneamente encarada como uma patologia. Por esse motivo, destaca a necessidade de uma formação que prepare os psicólogos para lidar com situações que estão além do âmbito formal.

Um dos principais problemas colocados pela psicóloga em relação aos imigrantes são os dados inexatos quanto à origem e número de pessoas. Após conhecer o centro na capital paulista, pôde perceber que há um grande número de imigrantes do Haiti, Bolívia e outros países da América Latina, no entanto, as estatísticas oficiais indicam os países da África como os principais pontos de origem - fato atrelado às migrações ilegais. Saber de quais lugares as pessoas vêm é importante não apenas para preparar um atendimento adequado, mas também para ter noção que elas estão ali e não torná-las invisíveis diante da sociedade.

Fora os benefícios que o acompanhamento psicológico pode proporcionar aos imigrantes - sobretudo aqueles vindos de situações de guerra ou violência -, a pesquisadora cita o ganho dos psicólogos, pois eles tem a chance de trabalhar com um público que raramente teriam contato em atendimentos realizados em consultório. Segundo ela, esses são momentos nos quais o profissional sai de sua zona de conforto e amplia sua visão do mundo, enriquecendo-o como especialista e ser humano.








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