ISSN 2359-5191

12/02/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 11 - Educação - Faculdade de Educação
Novo olhar sobre educação compromete autoridade do professor
Funcionamento mercadológico de algumas escolas enfraquece figura dos professores perante alunos
Atualmente, professores encontram muita dificuldade em atrair a atenção dos alunos para a sua fala. Imagem: Purplevideos

“A escola perdeu seu lugar de autoridade”, “a escola não ensina efetivamente mais nada”, “os alunos estão desinteressados pelo que a escola propõe”. Essas eram algumas das frases que Daniela Farias sempre ouvia de professores que se queixavam da perda da autoridade da sua palavra. Foi pensando nisso que ela desenvolveu seu trabalho de mestrado, onde ouviu dos docentes o sentimento de não serem escutados pelos alunos como alguém que tem algo a oferecer.

Na pesquisa, Daniela pensou a autoridade como um “direito de falar” e a sua perda como um “esvaziamento”. Segundo ela, há muitos fatores históricos e sociais, dentro e fora da escola, que influenciam nisso. Uma das explicações está no fato de que o professor é colocado (e se coloca também) entre duas idealizações principais que circulam na Pedagogia. A primeira, é a ideia nostálgica em que o professor é visto como mestre. Na outra, ele é moderno e mediador. O problema é que ora o professor é exigido a ocupar o lugar do antigo mestre, autoritário e gerador de ordem e ora lhe é exigida uma posição mais igualitária, como apenas um mediador entre o conteúdo e o aluno. “Este “jogo” esvazia sua autoridade e consequentemente seu direito de falar, pois não fala mais por ele, como um sujeito de vivências, e sim como uma ferramenta da educação para chegar a um suposto método ideal de ensino”, argumenta a pesquisadora.

Daniela realizou entrevistas qualitativas com perguntas semi-abertas com oito professores de uma escola da rede municipal de São Paulo. “Eles denunciavam o sofrimento gerado pela falta de comprometimento, interesse e respeito à própria escola como instituição”, diz a pesquisadora. “O professor está sendo levado pelo funcionamento atual dos sujeitos e os discursos que o cercam, que por sua vez definem todos como produtos, ou seja, ele perde seu valor único, pois pode ser substituído facilmente por outro, desde que dado a ele o mesmo treinamento”.

Para “enganchar” a turma no processo educativo, a pesquisadora sugere dar espaço para o professor ser sujeito e falar a partir de um lugar que é seu, “pessoal e intransferível”. “Acredito que a escola esteja entrando cada vez mais em um funcionamento mercadológico, jurídico e não-relacional, ou seja, a instituição escolar parece estar esquecendo que está ensinado crianças”, conta. “Muitas vezes por medo de processos jurídicos e perda de “clientes” se torna cada vez mais “asséptica”. Em outras palavras, tenta limpar as possibilidades de conflitos relacionais, o que a torna engessada em um funcionamento processual”.

Segundo ela, frases como “como devemos ensinar para que as crianças aprendam mais” ou “novos métodos de ensino” ou ainda “como tornar suas aulas mais atrativas usando a tecnologia” tentam fazer da escola e principalmente da aprendizagem uma experiência essencialmente prazerosa. Mas, a aprendizagem requer elaboração psíquica, ou seja, seu processo nem sempre será prazeroso.

“Penso que essa ressignificação do direito de falar, deve ocorrer muito mais socialmente, fora do ambiente escolar, com a valorização do percurso e da carreira acadêmica, por exemplo”, defende a pesquisadora. Já ao professor, cabe tentar recuperar essa autoridade por meio de atitudes simples. “Em minha opinião, quando um professor que se interessa pelo assunto que está ensinando passa esse entusiasmo através da fala para os alunos, consegue transmitir um prazer trazido na fala e criar um interesse sobre o assunto, ou pelo menos, fazer com que os alunos emprestem-lhe os ouvidos”.

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