ISSN 2359-5191

04/04/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 31 - Arte e Cultura - Museu de Arqueologia e Etnologia
A desmitificação da arquitetura clássica grega
Proporções de templos são revistas por arqueólogos
O templo de Apolo, em Dídima. Foto:Turkish Travel

Proporções perfeitas, padrões de medida atípicos, ausência de desenhos… Por séculos, a arquitetura grega foi considerada mística por leigos, admiradores e estudiosos. Atualmente, no entanto, pesquisadores do campo da arqueologia vêm constatando características que contrariam o conhecimento comum dessa área. Claudio Walter Gomez Duarte, doutor em arquitetura clássica grega pelo MAE-USP, faz parte desse time. Tendo como foco de seus estudos os templos dóricos, o brasileiro confirmou algumas variações nas proporções antigamente propostas.

A ordem dórica é uma ordem arquitetônica. O que define uma ordem é o tipo de pilar, de coluna, e o acabamento da coluna usados em suas construções. Em um templo de ordem dórica, as colunas possuem acabamento chamado canelura, que tem como característica o término em pontos vivos, ou seja, em pontas. A ordem dórica é definida pelo capitel. Já o que determina um templo é a presença de um altar na frente da construção. “O importante no santuário é o altar. O templo veio como um complemento para proteger a estátua de culto”, conta Claudio Duarte. “Na hora do culto, os fiéis ficavam do lado de fora. Ao fazerem os sacrifícios, abriam-se as portas: era como se o deus estivesse enxergando a oferenda, mas os fiéis não entravam no templo”.

http://umpouquinhodecadalugar.com/Foto: Joaquim Nery / Produção artística: Bianca Kirklewski 

Uma fórmula para construir templos dóricos foi proposta por Marcos Vitrúvio Polião, arquiteto romano do século 1 a.C., responsável por escrever o único tratado europeu do período greco-romano do qual se tem conhecimento nos dias de hoje. Vitrúvio afirmava que os templos dóricos surgiram com a proporção de 6 para 1. Isto significa que a base da coluna, multiplicada por seis, seria a altura recomendada. Cláudio controverte: “Só que na hora que você pega as medidas que o Vitrúvio recomenda, e compara com as proporções existentes nos templos, você percebe que em alguns momentos elas são parecidas, em outros são diferentes. Na arquitetura dórica, existem colunas com a proporção 3,9 para 1, por exemplo”.

A variação nas dimensões arquitetônicas gregas possui diversas justificativas. Muitos templos foram feitos em cima de estruturas antigas, reutilizando sua fundação, o que acabava por comprometer as proporções. Além disso, “a maneira de construir esses templos era bem manual, eles faziam um por um. Havia um padrão, mas as medidas não batiam. Eles comparavam os elementos, e não as proporções”, revela o estudioso. Acrescenta-se ainda, como fatores de variação de medidas, a datação dos santuários e o processo de petrificação, que consiste na modificação do material das colunas (de madeira à pedra).

Construir sem desenhos?

Pelas padronizações e proporções, acreditava-se que os arquitetos pudessem construir sem a necessidade de desenhos. Apesar de possuírem compassos, réguas e instrumentais ainda utilizados no tempo presente, os gregos não tinham papel, apenas papiro, que era muito caro. Ao longo de séculos, esse foi um argumento utilizado para defender a tese da ausência de plantas arquitetônicas. “Mas você pode usar outros suportes de desenho: terra, areia molhada, argila, cerâmica. Não é um argumento definitivo para descartar a possibilidade de desenho”. Cláudio conta que a tese foi derrubada de vez por um arqueólogo alemão-americano: “Esse arqueólogo, Lothar Haselberger, tinha acabado de se formar, e foi para uma cidade chamada Dídima, na Turquia, estudar o santuário de Apolo. Ele estava fazendo observações, quando o sol bateu de uma determinada maneira na parede, fazendo aparecer diversos desenhos que ninguém nunca tinha visto. Com isso, ele constatou que os desenhos existiam, mas sempre que os gregos terminavam uma edificação, poliam as pedras, sumindo com as plantas”, conclui.

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