Plantio orientado por dados, vem aí a nova revolução agrícola

Keylla Guiguer – Bolsista do Programa Aprender com Cultura e Extensão (2013/14). Orientada pelo Prof. Dr. Fabrício Rossi.

Uma nova revolução agrícola está prestes a acontecer e a Engenharia de Biossistemas parece ter papel fundamental nesta mudança. Segundo especialistas das principais indústrias de agronegócios do mundo, a nova revolução virá da capacidade de armazenamento de dados pelas novas maquinas agrícolas e posterior processamento por computadores e softwares potentes que orientarão aos agricultores para aumentar a produtividades de culturas como milho e soja.

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Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo

Multinacionais como a Monsanto e DuPont  estão trabalhando para lançar a nova tecnologia, descrita como “plantio orientado por dados”, para agricultores em todos os EUA que conhecem, de anos de experiência, que pequenos ajustes na profundidade de semeio ou a distância entre linhas podem fazer uma grande diferença na época da colheita. No entanto, os agricultores têm se mostrado relutantes em difundir este conhecimento.

De acordo com uma matéria publicada em fevereiro deste ano pelo The Wall Street Journal, o medo dos agricultures é de que as informações e dados passados as grandes companhias passem a ser comercializadas para concorrentes, ou que até mesmo essa grande quantidade de informação fortaleça ainda mais as grandes empresas do agronegócio, principais entusiastas da nova tecnologia.

A matéria mostra ainda que muitos tratores e colheitadeiras já são guiados por sistemas de posicionamento global via satélite (GPS) e plantam sementes em linhas cada vez mais retas, enquanto os agricultores, dispensados da tarefa de dirigir as máquinas, monitoram o trabalho em tablets, hoje comuns nas cabines de tratores. Essas máquinas também coletam dados do solo e das lavouras, mas a informação não vem sendo utilizada em todo o seu potencial.

A ideia é acelerar, simplificar e combinar todas essas informações com seus registros altamente detalhados de padrões climáticos históricos, topografia e desempenho das culturas. Algoritmos e especialistas analisam todos esses dados e podem dar instruções diretamente aos agricultores e as máquinas. Os defensores dizem que o impulso pode ser tão importante quanto o desenvolvimento de tratores mecanizados na primeira metade do século 20 e do aumento de sementes geneticamente modificadas na década de 1990. Maior empresa de sementes do mundo, a Monsanto, estima que o  plantio baseado em dados poderia aumentar a produção agrícola em todo o mundo em cerca de US$ 20 bilhões por ano, ou cerca de um terço do valor da safra do ano passado de milho dos EUA.

A tecnologia funciona da seguinte maneira:

Primeiro, os agricultores enviam as empresas dados detalhados sobre sua plantação, como limites da área, histórico de rendimento, condições do solo entre outros. Estes, por sua vez, são processados nas empresas, cruzando os dados enviados pelo agricultor com os da própria empresa, que também detém informações sobre o clima e outros fatores, gerando desta forma um arquivo. Este arquivo pode ser enviado os produtores, que de sua posse, podem fazer um upload para suas máquinas, que agora irão realizar seu trabalho baseado nestas informações. Deste modo, as empresas, se tornam capazes de aconselhar os agricultores na gestão de suas plantações.

Desde 2010, a Monsanto vem testando um serviço de plantio guiado pela tecnologia chamado FieldScripts. Ela está começando este ano a oferecê-lo nos Estados de Illinois, Iowa, Minnesota e Indiana, quatro dos maiores produtores de milho dos EUA.

Muitos agricultores que utilizaram o plantio guiado por dados estão entusiasmados com os resultados. David Nelson, um fazendeiro de Fort Dodge, Iowa, que começou a testar o sistema FieldScripts cerca de três anos atrás, diz que o sistema reconheceu nutrientes no solo em área previamente usada em confinamento de gado.

A conclusão foi baseada em mapas de fertilidade e amostras de solo recolhidas pelo Sr. Nelson, de 39 anos. O sistema da Monsanto informou que o solo permitiria cultivar linhas mais densas do milho, e FieldScripts ajudou o Sr. Nelson aumentar sua colheita de milho no ano de 2013.

“Eu vejo isso como outro potencial de transformação da empresa”, diz Robert Fraley, diretor de tecnologia da Monsanto, sediada em St. Louis. Ele ajudou a desenvolver primeiras sementes geneticamente modificadas da Monsanto no início de 1980.

Algumas entidades, no entanto, desconfiam destes projetos. A American Farm Bureau Federation, uma associação comercial de produtores dos EUA, alertou seus membros de que as empresas de agronegócios promovendo os novos serviços de plantio têm interesse em convencer os agricultores a plantar mais e orientá-los a comprar sementes, pesticidas e equipamentos.

Uma razão para essa desconfiança é o aumento dos preços de sementes observado à medida que a participação de mercado da Monsanto e da DuPont aumentou nos últimos 15 anos, principalmente por meio de aquisições. Essas duas empresas vendem cerca de 70% de todas as sementes de milho nos EUA. No ano passado, o agricultor americano pagou por sementes de milho cerca de US$ 292 por hectare, enquanto que em 2005, o valor foi de cerca de US$ 111, ajustados pela inflação, ou seja, um aumento de 166%, segundo a Universidade de Purdue.

Alguns agricultores estudam coletar eles próprios os seus dados para que possam decidir qual informação vender e a que preço. Outros produtores estão se juntando a firmas de tecnologia pequenas para tentar impedir que as multinacionais dominem o segmento de plantio orientado por dados.

A tecnologia parece promissora e promete realmente revolucionar o campo, mas os receios parecem mais do que justificáveis frente a já conhecida política das grandes empresas do ramo, que acabam por gerar uma competição desleal principalmente para os pequenos e médios agricultores. O fato é que os Engenheiros de Biossistemas estarão no meio dessa revolução, utilizando todo seu conhecimento em agricultura de precisão, mecanização agrícola, tecnologia da informação e informática agrícola. Comente, discuta, deixe sua opinião.

Referências:

http://revistagloborural.globo.com/Noticias/Pesquisa-e-Tecnologia/noticia/2014/03/nova-revolucao-agricola-vira-da-tecnologia.html

http://online.wsj.com/news/articles/SB10001424052702304450904579369283869192124

1 Comentário

  1. Há algum tempo já imaginava que esse tipo de serviço se tornaria mais frequente, colocando o agronegócio na onda do Big Data também, mas nunca tinha lido uma notícia dessas…

    Em tempos de grandes volumes de dados gerados em tempo real, serviços de georreferenciamento livres, tecnologias de monitoramento/controle/precisão, a informação (dados interpretados e traduzidos em algo de interesse) transforma-se em poder para quem as detém e que sabe como utilizá-las estratégicamente. No Brasil, em que existe um grande estímulo e acesso econômico facilitado às novas tecnologias, falta ainda o acesso ao conhecimento técnico – uma nova fronteira.

    Penso que o agronegócio caminha para um outro tipo de competitividade que não aquele baseado em volume de produção e oferta pelo menor preço, mas sim para algo baseado na capacidade de interpretação de dados e de valorização de informações no mercado, mais um insumo (ou produto) no processo produtivo.

    Excelente texto! Meus parabéns!!!