Neste artigo, buscamos problematizar questões sobre espaço e fragmentação em Grande sertão: veredas, tomando por base o modo tenso e ambíguo como Riobaldo organiza sua experiência, analisando as relações da personagem com o espaço. Acompanharemos a trajetória do narrador-protagonista em sua interminável busca pela verdade. A sua infinita travessia, real e simbólica, movida por fugas, mudanças inesperadas, desencontros e recomeços fazem com que o sertão, o mundo de Riobaldo, fique “à revelia”. Partindo das discussões propostas por Davi Arrigucci Jr., Carlos Garbuglio, João Adolfo
Hansen de que Grande sertão: veredas é uma obra de sentido aberto em que há uma busca da ordenação do mundo por Riobaldo, propomos analisar na obra os elementos que permitem discutir a tese da “Nostalgia da certeza perdida”. Claudia Campos Soares chama a atenção para “impossibilidade da fixação do sentido das coisas e da linguagem” na obra, sobretudo no que se refere às dúvidas e questionamentos do narrador-protagonista. “O desejo classificatório de Riobaldo está relacionado ao que poderíamos chamar de nostalgia do centro e da certeza perdida” (SOARES, 2014, p. 183).
Neste artigo, buscaremos problematizar questões sobre espaço e fragmentação em Grande sertão, veredas tomando por base o modo tenso e ambíguo como Riobaldo organiza sua experiência, analisando as relações da personagem com o espaço. Acompanharemos a trajetória do narrador-protagonista em sua interminável busca pela verdade. A sua infinita travessia, real e simbólica, movida por fugas, mudanças inesperadas, desencontros e recomeços fazem com que o sertão, o mundo de Riobaldo, fique “à revelia”. Partindo das discussões propostas por Davi Arrigucci Jr., Carlos Garbuglio, João Adolfo Hansen de que Grande sertão: veredas é uma obra de sentido aberto em que há uma busca da ordenação do mundo por Riobaldo, propomos analisar na obra os elementos que permitem discutir a tese da “Nostalgia da certeza perdida”. Claudia Campos Soares chama a atenção para “impossibilidade da fixação do sentido das coisas e da linguagem” na obra, sobretudo no que se refere às dúvidas e questionamentos do narrador-protagonista. “O desejo classificatório de Riobaldo está relacionado ao que poderíamos chamar de nostalgia do centro e da certeza perdida” (SOARES, 2014, p. 183).
Este texto propõe uma discussão acerca da construção do relato ficcional do vaqueiro Grivo, personagem viajante da novela “Cara-de-Bronze”. Busca-se analisar o processo de elaboração estética no entrelaçar da dupla viagem, a que ocorre no plano físico e simbólico, e os artifícios do exímio narrador-vaqueiro na inverossímil busca do “quem das coisas”. Em Corpo de baile (1956), cada novela evidencia uma situação em que a viagem constitui um recurso primordial para se explorar as potencialidades da travessia no imaginário sertanejo. Com a novela “Cara-de-Bronze”, o ato de viajar e o viajante fundem-se com a própria busca da poesia e do fazer poético. Nesta perspectiva, a travessia é ponte para a linguagem, é o sentido que se produz entre a palavra e o vazio nesse movimento em que o texto se coloca. A viagem de Grivo aponta para um percurso não convencional legitimado pela contingência simbólica da palavra.
Em Corpo de baile (1956), de Guimarães Rosa, a viagem é marcada por diferentes significados que tanto evidenciam o deslocamento pelos caminhos do sertão como para o interior do homem. O ato de viajar representa sentidos que vão além do deslocamento físico, produz paisagens reais e simbólicas. Para refletir sobre a viagem-travessia, propomos uma leitura conjunta das novelas “Campo geral”, “Uma estória de amor”, “Cara de Bronze” e “Buriti”, tendo como foco os protagonistas de cada novela, que aparecem em permanente trânsito. Nessa perspectiva, a temática dos viajantes e a leitura dos espaços em trânsito propiciam importante ponto de reflexão sobre os diferentes ciclos de vida das personagens.
O núcleo desta reflexão é a análise da relação entre corpo e paisagem, tema ainda insuficientemente explorado na obra de Guimarães Rosa, e as formas como a paisagem se transforma em componentes literários em Corpo de baile (1956), com base na noção de paisagem literária de Michel Collot e na fenomenologia da percepção de Merleau-Ponty. O artigo problematiza o espaço e os corpos nas narrativas rosianas tomando como base as construções paisagísticas, que atuam como forças criadoras da perspectiva experiencial das personagens. Com efeito, o espaço e a paisagem no contexto dessa leitura são percebidos pelas personagens através dos órgãos sensoriais, que têm como mediador o corpo.
Esta tese analisa no conjunto das sete novelas de Corpo de baile (1956), de Guimarães Rosa, as figurações do espaço, com foco na relação de unidade e fragmentação entre as narrativas. Trazemos à luz de nossa interpretação os diferentes modos de articulação e coexistência na integração das partes que, na composição do conjunto do livro, se unem por meio de várias conexões: espaço comum, mesmo universo ficcional, personagens que se repetem, recorrência de temas, reiteração de motivos. Nesta leitura, demonstramos como esses aspectos que impossibilitam a fixação de limites entre as narrativas interferem no modo ambivalente com que o espaço se configura. Dentro de nosso horizonte interpretativo, destacamos como essas ocorrências que desorientam os limites fixos se intensificam, dando uma visão problematizadora das formas de representação espacial. Em nossos estudos, identificamos o sertão-gerais como uma categoria potencialmente significativa na composição do universo móvel do livro, que se desdobra e se ressignifica em várias dimensões: geográfica, social, cultural, histórica, simbólica e mítica. Acrescentamos ainda ao exame desse espaço paradoxal reflexões acerca da maneira como as personagens aparecem e reaparecem em condição de trânsito, gerando uma tensão entre autonomia e interdependência, que coloca em jogo a rede de referências entre as novelas.
Este trabalho tem como objetivo investigar os efeitos do procedimento narrativo do
encaixe, presentes em Corpo de baile (1956), de Guimarães Rosa, a partir da técnica mise en
abyme introduzida por André Gide. O livro é composto por sete narrativas que juntas formam
um corpo que se tensiona por apresentar uma estrutura que tanto remete ao sentido de unidade
como de fragmentação. Por meio da técnica narrativa do encaixe, temas, personagens se
repetem e diferentes gêneros se mesclam, remetendo à espécie de jogo de espelhos ou mise en
abyme (estrutura em abismo). A forma de encadeamento que ocorre entre as novelas faz-se por
meio da reduplicação complexa, paradoxal (desdobramento da obra em si mesma).