O presente artigo analisa a colaboração de Dirce Côrtes Riedel para a recepção crítica de Guimarães Rosa, levando em conta a publicação de ensaios e livros dedicados à obra do autor. Acrescenta ainda
o papel da intelectual na formação de professores e pesquisadores de várias universidades do país.
Teorias críticas dos últimos anos contribuíram para o gradativo apagamento do interesse pelas pesquisas em fontes primárias, ao ser valorizado o texto na sua integridade estética, sem o interesse pelos bastidores da criação. É significativo o retorno da crítica em direção à figura do autor que, na pesquisa dos acervos, reaparece com seu traço e resíduo, sua marca autoral. Um esboço de biografia intelectual emana desses papéis, ao serem incorporados ao texto em processo. Os bastidores da criação, as experiências vividas pelos autores ligadas à produção literária e existencial, constituem lugares ainda desconhecidos pela crítica, e que deverão ser levados ao conhecimento público. A crítica genética, responsável pela elucidação da gênese da escrita, participa ainda do aparato biográfico, considerando ser importante processar o cotejo entre manuscrito e texto definitivo dos autores, ao lado da trajetória literária do escritor, sua relação com os instrumentos de escrita, assim como do lugar escolhido para exercer seu oficio.
Este ensaio se concentra na relação entre o escritor/diplomata Guimarães Rosa e o imaginário húngaro, a partir da interpretação realizada pelo olhar brasileiro frente ao estrangeiro. O prefácio de Rosa aos contos húngaros traduzidos para o português por Paulo Rónai (publicado em 1957) evidencia a sensibilidade poética do escritor em estabelecer pontes entre culturas, a princípio distantes entre si. O texto tem a assinatura de Rosa, por apresentar uma leitura da cultura húngara de forma a aproximá-la de sua própria concepção literária, de natureza ao mesmo tempo cosmopolita e local. A relação de Rosa com Paulo Rónai se inscreve no âmbito da construção poética/tradutória do escritor, o qual já se exercitava, na sua estada em Hamburgo como vice-cônsul (1938/42), na mescla heteróclita entre línguas e culturas. O encontro dos autores/tradutores possibilitou a leitura cruzada entre Brasil e Hungria.